Cambados: o porto da discordia

Comparação entre o recorte costeiro de Acul (Haiti) e Cambados (Galiza)
Fonte: Google Earth

Enrique Zas provou pela primeira vez ao mundo há cerca de noventa anos, que Cristóbal Colón conhecia detalhadamente os portos de Cambados e Santo Tomé, na ria de Arousa. O facto por vezes esquecido de alguns, foi-nos há dias relembrado por Rodrigo Cota, aqui mesmo em “Colonianos”.No seu livro de 1923 “Galicia, Patria de Colón”, Zas apresentou dois mapas traçados à mão: o da baía de Acul, no actual Haiti, a que Colón chamou originalmente «Porto de la Mar de Santo Tomé”; e o da enseada de “Santo Tomé do Mar”, a sul de Cambados que já levava essa designação muito tempo antes da existência do Almirante. Depois reafirmou: “es sorprendente la semejanza de este puerto de Santo Domingo (…) com el que existe en Cambados (Galicia) (…). No es pues solo la configuración sino que también el denominativo, lo que ofrece singular semejanza”.[1]

Nos comentários à entrada em “Colonianos” acima referida, já Fernando Alonso provou por imagens do Google Earth que, além de não ter havido manipulação da parte de Zas, a realidade apresenta as mesmas semelhanças da cartografia. Saliente-se que o relevante não é o serem idênticos que, de facto, não o são e só por milagre o seriam; o que se regista é a sua semelhança morfológica.

Dir-se-ia que Enrique Zas só pecou por não ter sido tão ambicioso na comparação. De facto, entrando no “mar de Cambados” (pedaço da ria frente ao porto daquele nome), as semelhanças são ainda mais gritantes. E é esta outra “prova irrefutável” da comparação entre Acul e Cambados.

Não só esta, como outra que fará o corpo deste texto, baseada na seguinte dedução lógica: se Colón honrou além-mar aquele porto galego que bem conhecia, e os Soutomaior em 100 anos dele usufruíram e por ele litigaram; então COLÓN podia ser um SOUTOMAIOR!

Vista de Cambados sobre o Oceano Atlântico

De facto, em Agosto de 1371[2] o arcebispo de Santiago, reconhecido pelos serviços daquele que fora até então o arcediago do Salnés, D. Álvaro Pais de Soutomaior, concede-lhe entre outras freguesias, Cambados e Santo Tomé (de Nogueira).

Segundo Otero Pedrayo, foi o otorgamento também feito em nome da sua mulher D. Maior de Grés e Moscoso, e em mais duas vidas que lhes sucedessem[3]. Sendo esta senhora sobrinha-neta do arcebispo, deduz-se ter este benefício sido feito, à guisa de dote do matrimónio que ocorreu durante esse mesmo ano, tendo previamente o Soutomaior renunciado aos votos religiosos, para também suceder na Casa paterna, morto que estava o irmão primogénito, precocemente e sem geração.

Conforme sugere Villaverde Román[4], essas decisões unilaterais geravam por vezes sobreposições de interesses entre o arcebispado e as ordens militares que dispunham de jurisdição nos mesmos territórios. Esse foi um dos casos que obrigou a concertação posterior com as ordens do Santo Sepulcro e do Hospital.

Independentemente do processo seguido, a vila e porto de Cambados pertenceu à Casa de Soutomaior desde 1371, na condição de foreira com jurisdição civil e criminal, “alto vajo misto ymperio com sus pechos y derechos y todas las rentas y derechuras del mar y de la tierra y el patronasgo de las yglesias y benefícios”. E da mesma forma lhes pertenceu a jurisdição do porto de Santo Tomé.[5]

Morto Álvaro Pais algures na transição para o século XV, sobreviveu-lhe a viúva que em 1416 ainda vivia na vila, no “pazo e courral deso o piñeiro”, na condição de sucessora no foro, datando desse ano uma escritura em que nomeia os netos Fernan Yañez de Soutomaior e Lope Sánchez de Ulloa, como sucessores “para después de sus dias”.[6] É de crer que se terão cumprido “esses dias” à volta de 1421, uma vez que em Junho desse ano os novos foreiros, sob o testemunho do notário de Pontevedra Alfonso Perez, acertam os pormenores da partição daqueles bens pela metade[7].

Vista sobre O Grove e entrada da enseada de Santo Tomé do Mar, com as ruinas da torre de San Sadurniño.
Foto de J. Mosteiro

Meio século se havia já passado em que os Soutomaior estiveram na posse plena de Cambados. A partir deste acordo de 1421, o aforamento daquela vila portuária e também do porto de Santo Tomé, para além do extenso rol de freguesias, coutos e lugares que lhes estava associada pela concessão do arcebispo Moscoso, passou a ser considerado “pela metade”, entre os Soutomaior e os Ulloa.

Bem sintetiza aquela época da Galiza feudal, o facto de dois nobres de relevância repartirem e estipularem entre si, que bens ficariam ao Santo Sepulcro e quais caberiam aos Hospitalários de São João! A cada um deles, ficava o encargo de 400 maravedis anuais: 200 ao Comendador de Toroño (Ordem de São João); e outros 200 ao Comendador de Pazos de Arenteiro (Ordem do Santo Sepulcro). Magra quantia para decerto bem maiores rendas que a tenência daqueles territórios gerava.

E o interesse na sua posse demonstra-se pela simples leitura das mandas testamentárias ditadas à beira da morte em 1440, pelo primeiro daqueles cavaleiros: a sua sucessão deveria caber sem reservas ao filho único, Álvaro, ainda solteiro; se aquele não viesse a gerar herdeiro legítimo, herdava a tia D. Maior de Soutomaior; e ainda depois desta, caso o “problema” subsistisse, ficaria contemplada a sucessão na Casa àquele Ulloa, mas só na condição de “que tome el apelido, e armas de Sotomayor, e que si lo ansi non ficier e que non pueda haver, ni heredar cosa alguna dello”.[8]Na opinião de Suso Vila, as referidas partições viriam, já na década seguinte, a servir de arras e dote no casamento dos primos Álvaro de Soutomaior e Maria de Ulloa, filhos respectivamente de Fernan Yañez e Lope Sánchez[9]. Procurava-se deste modo, reunir de novo o pleno de Cambados sob tutela dos Soutomaior.

Fachada do pazo que Maria de Ulloa fez reconstruir na metade final do século XV, sobre o antigo pazo onde viveu D. Maior de Grés e Moscoso até cerca de 1420

Sem que a mulher fosse capaz de engendrar um herdeiro, e talvez influenciado pelo exemplo paralelo do rei Enrique IV de quem era próximo, Álvaro de Soutomaior procurou anular o casamento junto da Santa Sé, aparentemente sem nunca o conseguir. Morreu em 1468, na defesa de Tui frente aos “irmandiños”, deixando a viúva como única foreira de Cambados. Remodelaria os velhos pazos e seria promotora da igreja de Santa Mariña do Dozo.

Entretanto, legitimado pelo falecido irmão com autorização expressa de Enrique IV[10], Pedro Madruga, com o apoio, entre outros, do arcebispo de Santiago D. Alonso de Fonseca, derrota a rebelião “irmandiña”, tomando posse de todos os bens “muebles y rraizes” que haviam pertencido àquele Álvaro de Soutomaior. Recuperado o património, serenou-se a nobreza galega nos alvores da década de 70. Só o prelado de Santiago tentava reaver os bens do arcebispado, sob o controle das linhagens mais relevantes.

Contudo em 1471 decorrido que estava exactamente um século desde a concessão inicial, o porto e “vila velha” de Cambados, juntamente com o povoado marinheiro de Santo Tomé do Mar, pareciam afastar-se irremediavelmente da Casa de Soutomaior: insinuava-se o arcebispo Fonseca à viúva Ulloa, com os olhos postos no rendoso “mar de Cambados”!

Vista sobre a entrada da baía de Acul (Haiti).
Foto de Nick Hobgood

Baseando-se em documentos do “Preito Tabera-Fonseca”, Suso Vila ressalta que a delicada situação se pretendeu resolver no seio da própria linhagem, promovendo-se o casamento da libertina viúva com outro Soutomaior, da Casa de Lantañón, filho primogénito do mariscal Sueiro Gómez. Reagiu o arcebispo a contento da amásia, prendendo os referidos cavaleiros e nela gerando Diego, futuro titular consorte do condado de Monterrey[11]. Desse modo se consumava em 1473 aquele concubinato, agravando ainda mais a honra da linhagem do defunto marido, uma vez que, como muito claramente expõe Molinero Merchán, a honestidade das viúvas fazia a honra dos homens da família, “assim como a virgindad en las doncellas y fidelidad en las casadas”.[12] Nisso concorda Suso Vila, para quem o amancebamento de Maria de Ulloa acarretar-lhe-ia a“ perda das arras, e polo tanto da metade de Cambados”.[13]

Pedro Madruga não tardaria a ocupar aquela vila portuária e todo o couto de Nogueira que lhe estava associada. Por isso muito do ódio desenvolvido entre D. Alonso de Fonseca e o futuro visconde de Tui e conde de Caminha, ter-se-á originado nesta disputa por Cambados que se manteve latente ao longo de toda a década de 70.

A instância do senhor de Soutomaior, no ano de 1474 frei Juan de Valenzuela, prior de Leão e Castela na ordem de São João de Jerusalém, apresentou no capítulo de Cuenca, a escritura de 1371, vendo confirmados o seu teor, forma e cláusulas, por se considerarem ainda úteis e proveitosas para os Hospitalários[14]. Ficava assim ganha por Pedro Álvares de Soutomaior, a batalha legal pela metade de Cambados e Nogueira.

MAR DE SANTO TOMÉ
(Nome dado por Colón em Dezembro de 1492)

É sabido que Enrique IV morreu nesse final de ano, deixando o trono de Castela numa indefinição que levou à guerra peninsular opondo Isabel e Fernando de Aragão, a Juana e Afonso de Portugal. Também é lugar-comum que aos primeiros apoiou na Galiza o arcebispo Fonseca, enquanto os segundos tiveram o suporte incondicional de Pedro Madruga. Subitamente, conseguia a guerra por Cambados, um registo ibérico insuspeitado!

Saindo embora derrotado dessa meia década de contendas, o Conde de Caminha viria ainda assim a receber o perdão dos Reis Católicos em Março de 1480, recuperando todos e “qualesquier bienes que, por cabsa de haver servido e seguido al dicho rey de Portogal, le fuesen tomados e ocupados”.[15] Por certo que o assunto dos portos de Cambados e Santo Tomé do Mar, não se resolveu com a mesma facilidade do porto de Cangas, ou das fortalezas de Soutomaior e Fornelos, sobre que não havia dúvidas acerca da sua posse efectiva antes da guerra peninsular. Fonseca, no lado vencedor, pressionava contra a pretensão de Madruga em reaver a metade daqueles territórios, e não acatava a carta[16] que nesse sentido fora enviada a Maria de Ulloa, pela chancelaria real na mesma data.Finalmente, em Abril de 1484, as demandas de um e outro lado parecem ter a solução à vista: Isabel a Católica manda nominalmente que se restitua “a don Pedro Alvarez de Sotomayor, conde de Camiña, los lugares de Cambados y Noguera”.[17]

Avança o conde mais do que a conta, ocupando igualmente a metade que lhe não competia. Reage o arcebispo em defesa da manceba e quatro meses volvidos, novo documento da rainha afasta definitivamente Pedro Madruga da metade de Maria de Ulloa.[18]  Ficava reposta a verdade legal, cabendo no entanto ao Soutomaior algum amargo de boca!Os anos seguintes testemunham o declínio do conde de Caminha, a sua hipotética morte e sucessão do primogénito D. Álvaro de Soutomaior, incapaz de suster a pressão legal imposta sobre muitos dos seus bens. Alonso de Fonseca, procurando a revanche das humilhações que sofrera às mãos do pai do novo titular da Casa, ocupava militarmente os portos atlânticos dos Soutomaior: Cangas e Cambados. A morte de Álvaro, assassinado em 1495, marca o fim da posição dominante da linhagem no trato de mar das rias galegas.

SANTO TOMÉ DO MAR
(Nome antigo e ainda em uso para o «mar de Cambados»)

Nessa altura porém, é de crer que Pedro Madruga vivia ainda, sob a identidade de Cristóbal Colón, procurando reconstruir um novo potentado marítimo para senhorear enquanto “Visorey y Governador General” , e oito anos não eram suficientes para esquecer o orgulho de um século. Santo Tomé do Mar de Cambados por certo continuaria a ser a “menina dos olhos” do Almirante.

A 21 de Dezembro de 1492, reconhecendo a costa do Haiti, deslumbrava-se com certo porto, “hermosíssimo” no seu parecer, cuja entrada desde o mar pareceria “impossible a los que non hubiesen en él entrado, por unas restingas de peñas que pasan desde el monte hasta casi la isla, y no puestas por orden, sino unas acá y otras acullá, unas a la mar y otras a la tierra”.[19] Podia ser o retrato da entrada desde o Atlântico, no mar de Cambados… em Santo Tomé do Mar.

Descrevia ainda que a Oeste da entrada do porto havia um canal com uma boca que dava acesso a uma enseada ideal “para todos los ventos que puedan ventar”, fechada e profunda. A “boca” que a guardava era “muy cerrada de dos restingas de piedra que escassamente la ven sobre agua”. Parecia ter sido feita à mão, deixando “una puerta abierta cuanto los navios puedan entrar”. Só quem nunca viu a enseada de Santo Tomé do Mar e as suas ilhotas rasas à água guardadas pelos escombros de San Sadurniño, pode deixar de reconhecer aqueles traços familiares descritos por Colón

Na posse do diário do Almirante, pôde o padre Bartolomeu de Las Casas resumir o sentir maravilhado do descobridor[20]: “Es el mejor del mundo; púsole nombre el Puerto de la Mar de Santo Tomé, porque era hoy su dia[21]: dijole mar por su grandeza”.


[1] Zas, E. (1923). Galicia, Patria de Colon. (C.P.-C. Habana, Ed.) Habana, Cuba, pp. 32-33.

[2] Rodríguez González, A. (1992). Documentación Medieval del Archivo Histórico Diocesano de Santiago. Compostellanum XXXVII, Nº 3-4, pp. 381

[3] Otero Pedrayo, R. (1951). Bienes y derechos de los caballeros sanjuanistas en tierra de Morrazo y villa de Pontevedra. El Museo de Pontevedra, VI, pp. 33

[4] Villaverde Román, X. C. (1999). As xurisdiccións nas freguesías moañesas durante a Idade Media. (B. P. Moaña, Ed.) Obtido em 26 de Maio de 2012, de Biblioteca Publica de Moaña: http://moana.servidores.net/libros/freguesias.htm

[5] Tato, I. G. (2004). Las Encomiendas Gallegas de la Orden Militar de San Juan de Jerusalén. Estudio y edición documental (Vol. I). Santiago de Compostela, Galicia: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Xunta de Galicia, Instituto de Estudios Gallegos «Padre Sarmiento», pp. 59

[6] ibidem, pp. 61

[7] Martínez, C. P. (2007). Documentos da Orde do Santo Sepulcro en Galicia. Anuário Brigantino, 30, pp. 220-221

[8] Vila, S. (2010). A casa de Soutomaior (1147-1532) (1ª ed.). Noia, Galicia: Editorial Toxosoutos, pp. 448-449

[9] ibidem, pp. 274

[10] ibidem, pp. 461-465

[11] ibidem, pp. 288-289

[12] Molinero Merchán, J. A. (2007). El convento de Santa Clara de la Columna de Belalcázar. Estudio Histórico-Artístico. Córdoba, España: Diputación Provincial de Córdoba – Delegación de Cultura, pp. 62

[13] Vila, S. (2010), pp. 274

[14] Tato, I. G. (2004), pp. 259

[15] La Torre, A., & Fernandez, L. S. (1960). Documentos referentes a las relaciones con Portugal durante el reinado de los Reyes Catolicos (Vol. II). Valladolid, España: Consejo Superior de Investigaciones Cientificas. Patronato Menedez Pelayo, pp. 22-25

[16] AGS. RGS,LEG,148003,343. 7 de Março de 1480

[17]  La Torre, A., & Fernandez, L. S. (1960), pp. 289

[18] Vila, S. (2010), pp. 275

[19] Navarrete, M. F. (1858). Coleccion de los viajes y descubrimentos que hicieron por mar los españoles desde fines del siglo XV (2ª ed., Vol. I). Madrid, España: Imprenta Nacional, pp. 248-249

[20] ibidem, pp. 253

[21] A co-relação entre a data e a festa litúrgica do santo é um facto circunstancial, e não justifica por si só a designação escolhida, face à associação dos termos “Porto” e “Mar”, e à evidente semelhança geográfica com o “mar de Cambados”.

 

Mussolini contra el Colón Gallego. La compra de Ángel Altolaguirre.

No es la primera vez que se publica el documento de arriba. Lo hizo en el año1987 la revista «Cristóbal Colón» que dirigía don Xosé Lois Vila Fariña, a quien hoy nadie se molesta en mencionar. Diría incluso que hay quien se molesta en que no sea mencionado, vaya usted a saber por qué. También lo reprodujo Philippot, algo después. Y anteriormente, el Sr. Modesto Bará había ya dado cuenta de la existencia del papelote, tan molesto para los genovistas. El documento tiene su propia historia, que trataremos de resumir.
Tras la publicación de la obra del gran Celso García de la Riega, «Colón Español», Génova se puso muy nerviosa. La teoría que hablaba de un Colón Gallego no gustaba en Italia y se expandía por el mundo de manera imparable. La cuestión trató de desactivarse tachando de falsa la documentación aportada por García de la Riega. No se consiguió del todo, pues varios de los documentos fueron declarados totalmente válidos, pero la duda estaba sembrada. En Galiciase siguió trabajando. Aparecieron nuevos documentos, que serían publicados pordon Prudencio Otero, y que demostraban de una manera simplemente irrebatible la existencia del apellido Colón en Pontevedra en tiempos del descubridor. Eso ya era demasiado para Génova. La cuna de su Colombo se desplazaba hacia Galicia y, sencillamente, no lo podían consentir. Decidieron comprar a la Academia de la Historia española, que era la encargada de dirimir estos asuntos. En 1922 escribieron, desde la ciudad de Génova, esta carta, dirigida al agregado militar en la embajada de Italia en Madrid. En ella, entre otras cosas, se dice:»(…) las pretendidas reivindicaciones del origen español de C. Colombo defendidas ahora por Prudencio Otero Sánchez valen desde el punto de vista científico los mismo que las de García de la Riega, las cuales fueron ya demostradas como completamente infundadas.«Lo cierto era que los documentos que estaba a punto de publicar Prudencio Otero valían mucho. Muchísimo, y en Italia se sabía. De ahí la mussoliniana necesidad de desactivarlos. La carta continúa:

«Tal falta de fundamento no es sin embargo apreciada por el gran público, y de ahí que sea muy oportuna la obra que se propone desarrollar S.V. Ilustrísima

¿Qué «obra» se proponía desarrollar el agregado de la embajada de Italia en Madrid por encargo de Génova en realación a los documentos sobre el Colón Gallego? Dejemos por un momento la pregunta en el aire, y pasemos a explicar, también por el aire, quien era Ángel Altolaguirre y Duval.

Altolaguirre era uno de esos académicos que había de determinar el alcance de los documentos gallegos. Presidía una comisión que debía trasladarse a Galicia para el estudio, no sólo de los documentos sino de otras pruebas como la famosa inscripción de la Basílica de Santa María. Pero, coincidiendo con la carta de la ciudad de Génova al agregado militar, acérrimo fascista, Altolaguirre no solamente se negó a desplazarse a Pontevedra con las excusas más peregrinas. Además, se dedicó a atacar con una virulencia indigna de un académico, de un historiador, y hasta de un mamífero, a la tesis gallega. Publicaba informes negando la veracidad de los documentos que no estudiaba y haciendo gala de una parcialidad y una subjetividad indecentes, insultaba rabiosamente a cualquiera que osara afirmar que acaso Colón era gallego. Y todo eso, sin renunciar a la presidencia de la comisión encargada del asunto.

Bien. En los años 50, felizmente muerto Ángel Altolaguirre, esperamos que tras larga y dolorosa agonía, sus descendientes decidieron vender su biblioteca. Un señor catalán, interesado en la figura de Colón, adquirió un lote de libros provenientes de la colección de Altolaguirre y entre las páginas de uno de ellos, encontró varios documentos. Eran las cartas dirigidas por Prudencio Otero a  Ángel Altolaguirre, en las que le pedía insistentemente que procediera a realizar, como presidente de la comisión académica, el viaje prometido a Pontevedra para analizar las pruebas sobre el Colón Gallego. Junto a las cartas de Prudencio Otero, el documento que vemos arriba. El señor catalán, un bibliófilo llamadoJaume Colomer i Montset ató cabos rápidamente y contactó con Modesto Bará, periodista e investigador que mucho aportó al Colón Gallego, dando cuenta de su extraño hallazgo. La carta de Colomer dice que la embajada italiana se encargaba de buscar:

«(…) que alguien estudiara el problema del origen de Cristóbal Colón, a fin de oponerse a la argumentación de la tesis gallega. Todo hace pensar que el encargado de llevar a cabo esta campaña había confiado el asunto al Sr. Altolaguirre. El hecho de que poseyera él la carta del Ayuntamiento de Génova lo hace así presumir.


Vd. que conocerá los pormenores de los incidentes tenidos entre la comisión de académicos que se tenía que trasladar a Pontevedra y la comisión que allí aguardó inútilmente su llegada, sabrá encajar esta carta genovesa que explicaría muchas cosas, pero que aparte de la polémica surgida demuestra que alguien había «tomado su partido» antes de examinar los documentos de Vds»

Así se supo el porqué de la inquina remunerada de Altolaguirre contra el Colón de Pontevedra, y así se supo cuál era la obra encargada por Mussolini, a través de la ciudad de Génova, a su agegrado militar en Madrid. ¿Por qué una carta de la Ciudad de Génova a su agregado militar, en la que se muestra la preocupación italiana ante los documentos de Pontevedra, acaba en poder de Altolaguirre, la persona encargada de analizar esas pruebas pontevedresas? ¿Por qué precisamente Altolaguirre guarda esa carta junto a las de Prudencio Otero? ¿Cuántos académicos más fueron comprados por Génova? ¿Cuántas cartas como la que aquí reproducimos fueron escritas desde Italia? ¿Cuántos altolaguirristas caben en un Fiat Cinquecento?

Es conocida la furia con la que Mussolini defendió a su Colombo contra el empuje del Colón Gallego, ¿hasta dónde llegó esa furia? La carta que nos ocupa nos llegó de una manera imprevista y casual. En realidad, nunca nos debió haber llegado, y si podemos hoy leerla es porque el burro de Altolaguirreolvidó destruirla y la dejó perdida entre las páginas de un libro. Eso nos permite sospechar que estamos ante la punta de un iceberg.

Hay quienes citan las obrillas que escribió Altolaguirre con la misma veneración con que verían una aparición de Mussolini. Sepan que todo lo que haya escrito Altolaguirre en relación a Cristóbal Colón, al menos a partir de la fecha de esta carta,  ha de ponerse en cuarentena, y tras citar a Altolaguirre, lávense la boca con detergente. Y lean a Enrique Zas, que demostró punto por punto que Altolaguirre sólo escribía bobadas.Y aún por encima, pagadas por Mussolini.

A quien piense que soy desconsiderado con Altolaguirre, le pediré que busque las perlas que Altolaguirre y algún que otro académico dedicaban a García de la Riega, por aquel entonces recién fallecido. No seré yo quien las reproduzca por respeto a don Celso, respeto que no merecen ni Altolaguirre ni sus entusiatas cachorrillos.

Cristóbal Colón y el Comendador Diego de Sotomayor

Hace algo más de un año, tuve la inmensa fortuna de toparme con un texto de Francesillo de Zúñiga, una crónica en la que se mencionaba a Diego de Sotomayor, hijo de Pedro Madruga, como hijo de Cristóbal Colón. La sorpresa fue doble, en primer lugar porque el texto, escrito en el primer tercio del S. XVI y publicado por vez primera a mediados del S. XIX, refrendaba la tesis de Pedro Madruga como verdadera identidad de Colón…………..

Si, como asegura Francesillo, Diego de Sotomayor era hijo de Colón, entonces Colón es Pedro Madruga. En segundo lugar, me sorprendió que el texto hubiera pasado desapercibido durante todo este tiempo a los ojos de todos aquellos que dedican su vida al estudio de Cristóbal Colón.

La autoridad de Francesillo de Zúñiga como cronista queda fuera de toda duda por varios motivos, y más aun en lo que se refiere a la familia Sotomayor, de la que habla con gran conocimiento. Había estado durante años al servicio del duque de Béjar, íntimamente ligado a los Sotomayor y a la Orden de Alcántara, a la que pertenecía Diego de Sotomayor, residente en Extremadura en tierras vecinas a las de su pariente, el propio duque de Béjar. Por otra parte, un análisis exhaustivo del texto de Francesillo no deja lugar a dudas sobre el carácter escrupuloso que imprimía a cada dato que consignaba, aunque se tratara de una obra satírica escrita para solaz de Carlos V, o precisamente por estar dedicada al Emperador. Es imposible encontrar en la “Crónica del Emperador Carlos V” una inexactitud en lo que se refiere a hechos que narra, nombres, parentescos que refleja o fechas. Además, Francesillo tuvo la libertad de escribir sobre todos aquellos asuntos que estaban vetados a los cronistas oficiales por una simple razón: su crónica no fue escrita para ser publicada, y de hecho no se imprimió hasta tres siglos después. Eso permitía al autor bromear sobre asuntos muy serios de los que el rey, destinatario del texto, tenía un amplio conocimiento. Dice Francesillo que Diego de Sotomayor “parece hijo bastardo de Colón, el Almirante de Indias”. Ese “parece” lo utiliza habitualmente para referirse a los que en realidad eran hijos bastardos. En el caso de Diego de Sotomayor tiene un doble sentido, pues Colón no reconocía, obviamente, a los hijos que había tenido con su anterior identidad. Dice luego que el mismo Diego “parece heredero del ladrón que desesperó”. Y en otra parte del texto deja bien claro que el “ladrón que desesperó” es Pedro Madruga, cuyos bienes realmente heredó Diego tras serle confiscados a su sobrino Pedro. Dice también que Diego de Sotomayor aspiraba al maestrazgo de la Orden de Alcántara y se refiere a Colón como solicitador de aquel ascenso. De ser así, esa solicitud tuvo que hacerse años antes, pues Colón murió en 1506. Era habitual que ese tipo de cargos se solicitasen con años de anticipación. Todo encaja en el testimonio de Francesillo con la tesis Colón-Madruga.

Y ya saliéndonos del texto de Francesillo de Zúñiga, la investigación sobre el Comendador Diego de Sotomayor da mucho más de sí, y sospecho que irá a mayores a medida que se vayan conociendo nuevos datos. Hace unos meses tuve la feliz idea de enviar a don António Pedro Sottomayor una copia del libro “El Castillo del Marqués de Mos en Sotomayor”, escrito por la marquesa de Ayerbe. El libro me había llegado a través de Fernando Alonso Conchouso. Así, entre el mayor investigador que existe hoy sobre la tesis Colón-Madruga, que es el Sr. Sottomayor, y el mayor bibliófilo y divulgador, que es el Sr. Alonso, tenemos dos minas que pronto arrojaron sus frutos. A los pocos días me escribía António Pedro y, en su elegante portugués (eso no es mérito suyo, el pueblo portugués escribe con mayor elegancia que nosotros) me hacía ver un dato que a mí se me hubiera escapado de todas todas, y eso sí es mérito suyo. En uno de los apéndices del libro de la marquesa de Ayerbe se reproduce la solicitud de ingreso de Diego de Sotomayor en la Orden de Alcántara. Uno de los testigos que declara en ella es Juan de Estrada, procedente de Vila Real (Portugal). Pedro Madruga tenía una amante en Vila Real, Francisca de Estrada, de la que tuvo un hijo llamado Juan de Estrada, que servía al marqués de Vila Real. Éste puede ser el testigo que declaró a favor de Diego de Sotomayor, ya que es el único de ese nombre que tenemos documentado, aunque no se puede descartar la posibilidad de que existiera otro Juan de Estrada en Vila Real, que en todo caso sería pariente muy cercano de Francisca, la amante de Madruga, ya que la única rama de apellido Estrada que había por aquella época en Vila Real era aquella a la que pertenecía Francisca, y por tanto el testigo Juan de Estrada.  De lo que no hay duda es de que un Juan de Estrada, hijo de Pedro Madruga y Francisca de Estrada, sirvió durante toda su vida al marqués de Vila Real, eso queda claro por abundante documentación. La relación de Madruga con el marqués de Vila Real iba mucho más allá de una simple amistad. Por poner un ejemplo, cuando Pedro Madruga secuestró al obispo de Tui, Diego de Muros, los 700.000 maravedíes del rescate fueron entregados al marqués de Vila Real, lo que nos demuestra que Pedro Madruga tenía una confianza ciega en el marqués.

Todo ello no nos llevaría a ningún lado si Pedro de Meneses, que así se llamaba el marqués de Vila Real no tuviera relación alguna con Colón. Pero el caso es que fue Pedro de Meneses, en una encendida discusión con el obispo de Ceuta quien intentó convencer al rey de Portugal de que patrocinara el viaje de Colón. ¿Defendía el marqués de Vila Real a un Colón cualquiera, jugándose su prestigio y su influencia en la corte portuguesa? Evidentemente, no. El marqués de Vila Real defendía a su amigo y hombre de confianza, Pedro Madruga.

Rodrigo Cota González.

Pedro Madruga, Cavaleiro de São João de Rhodes ( III ) – o tempo de Cristóvão Colón

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Manuel da Maia foi Tabelião em Abrantes. A pedido do Juiz de Fora André de Matos Almada, dará provimento, em Junho de 1596 e Novembro de 1598, a dois documentos, um requerido por Sebastião de Valadares Soutomaior, e o outro por Fernão Soares Galhardo, fidalgos daquela vila. …

Coincidiam aqueles instrumentos legais, ao tratar do parentesco entre ambos os requerentes e um outro familiar comum que fora Alcaide-Mor da vila de Seda, tudo devidamente atestado por várias testemunhas presentes.

Como antepassado comum, apresentavam o Fidalgo da Casa Real Diogo Ribeiro de Soutomaior, filho de Fernando Anes de Soutomaior, fidalgo morador em Arruda-dos-Vinhos, e neto de D. Cristóvão de Soutomaior.

O primeiro genealogista a fazer uso destas fontes foi Bernardo Pimenta do Avelar Portocarreiro, entre 1713 e 1722, no seu manuscrito Das Gerações Nobres deste Reino de Portugal, logo seguido por Jacinto Leitão Manso de Lima, um dos mais notáveis genealogistas do século XVIII, autor de 56 volumes manuscritos sob o nome de Famílias de Portugal. Ambos os tratados fazem parte do catálogo das “genealogias manuscritas” do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa.

Conhecedores do seu ofício, ambos identificaram aquele D. Cristóvão com o único possível, referido nos documentos coevos: o benjamim do casamento de D. Pedro Álvares de Soutomaior, Conde de Caminha, com D. Teresa de Távora, que foi “secretário de Filipe II e morreu na Conquista das Índias Ocidentais”. Não se lhe conhecendo casamento algum, aquele Fernando Anes teria inevitavelmente de ser seu filho natural, mesmo que cronologicamente, a hipótese carregasse em si mesma, um erro de cerca de meio século, correspondente, no mínimo a duas gerações.

Um simples exercício matemático de recuo no tempo, tomando como ponto de partida três descendentes de linhas diferentes, bem datados e documentados, que viveram na segunda metade do século XVI, demonstra-o sem grande dificuldade: o pai daquele Fernando de Soutomaior teria inevitavelmente nascido nos anos 30 do século XV, e nunca à roda de 1480, como o Cristóvão, filho de Pedro Madruga, o tal que morreu nas Índias de Colón!

Senão vejamos: considere-se como valor médio para a idade casadoura de um varão naquele tempo, os 27 anos, dois anos após a maioridade legal de então. Esse número base deverá ser multiplicado pelo número de gerações desde a personagem que pretendemos datar. Seguidamente subtrairemos o valor obtido às três datas de nascimento documentadas. Obteremos um ano aproximado para o nascimento do referido progenitor daquele Fernando de Soutomaior.

O primeiro descendente documentado é Cristóvão de Valadares Soutomaior, nascido em 1543, terceiro neto de D. Cristóvão; 27 anos x 4 gerações = 108 anos; 1543 – 108 = 1435.

Segue-se Isabel Fradessa do Avelar, nascida em 1547, também 3ª neta de D. Cristóvão; 27 x 4 = 108; 1547 – 108 = 1439.

Finalmente, para Cristóvão do Avelar Soutomaior, nascido em 1571, 4º neto de D. Cristóvão; 27 x 5 = 135; 1571 – 135 = 1436.

Recorrendo ao absurdo para resolver a questão, tomemos o primeiro exemplo, e consideremos uma menos do que provável hipótese de uma diferença de apenas 15 anos entre gerações: 15 anos x 4 gerações = 60 anos; 1543 – 60 = 1483. Esta era a única forma de podermos ter Fernando Anes de Soutomaior como filho natural daquele D. Cristóvão morto nas Índias Ocidentais.

Deste modo, e perante as evidências documentais, uma conclusão deve ser extraída: o pai deste Fernando tinha de ser contemporâneo de Pedro Álvares de Soutomaior, e nunca de seu filho mais novo.

Posto o enigma, só existem duas respostas, elas próprias impossíveis de esclarecer com base na documentação hoje existente: ou os intervenientes no processo mentiram em bloco ao jurarem a sua ascendência perante o tabelião Manuel da Maia em 1596 e 1598… e então este artigo termina aqui; ou o que disseram era a verdade distorcida pela distância de um século a mediar os factos… e então podemos genuinamente perguntar-nos se aquele D. Cristóvão de Soutomaior não seria uma confusa simbiose entre D. Cristóvão Colón e D. Pedro Alvares de Soutomaior.

A ser assim, poderemos estar perante um outro filho natural do cónego de Tui, quiçá o primeiro rebento da vasta prole de Pedro Álvares, e daí ter recebido o nome do avô, clássica actuação na linhagem dos Soutomaior de Tui. Diz-nos o investigador Suso Vila Pérez, na página 479 da sua já mencionada obra sobre Tui, que naquela sede de bispado os eclesiásticos tinham uma importante influencia enquanto cidadãos, “a través dos seus fillos – a maioria declarados – mancebas, criados, e outros parentes”.

O nascimento de Fernando Anes de Soutomaior só faz sentido entre a segunda metade dos anos 50 e os primeiros anos da década de 70 do século XV. É igualmente admissível que se tenha criado com sua mãe em Tui até contrair matrimónio, por negociação paterna, com uma senhora de varonia d’o Ribeiro e linhagem de Valadares, atendendo aos apelidos que tiveram os filhos Diogo, Gaspar e Brás. Neste ponto, é interessante citar Alfonso Philippot, que documenta o padrasto de Pedro Álvares de Soutomaior com o dito apelido d’o Ribeiro; também José Armas Castro em Pontevedra en los siglos XII a XV, refere um Juan do Ribeiro, mercador e alcaide de Pontevedra em 1487 e 1493; bem assim como José Garcia Oro que amiúde refere nas suas obras que tanto os Montenegro como os Valadares foram escudeiros dos Soutomaior, até à cisão provocada pela Guerra da Sucessão ao trono de Castela depois da morte de Enrique IV.

Sabendo dos interesses comerciais dos Soutomaior no tráfego marítimo de Pontevedra, não será de estranhar que nos anos 70 e 80, o período de maior influência de Pedro Álvares de Soutomaior em Portugal, este seu filho fosse “transferido” para o país vizinho, e se implantasse numa região afamada pela produção de vinhos que então se escoavam pelo rio Tejo via Lisboa, não só para consumo interno, como para exportação. Sobre este assunto, o acima citado José Armas Castro, afirma que “(…) llegaban a Pontevedra los vinos portugueses de Monção y, sobre todo, de la ria de Lisboa, traídos en ocasiones por los própios mercaderes portugueses y, más frecuentemente, cargados por los barcos pontevedreses (…)”.

Pela ordem de ideias que vamos seguindo, este Fernando Anes seria meio-irmão de D. Cristóvão de Soutomaior, e mais velho que ele entre cerca de um quarto de século e uma década; foi pai de 3 filhos.

Presumimos que o primogénito fosse Diogo Ribeiro de Soutomaior, e a ele cabe a sequência desta análise. Diogo casou nos anos 90 na vila de Abrantes, com uma das filhas de Vasco Gomes, o então Alcaide-Mor do castelo de Alegrete, uma das fortalezas da raia do alto-alentejo que defendia a fronteira com a região castelhana de Alcântara, na posse da Ordem do mesmo nome, onde os Soutomaior detinham então enorme influência. Este matrimónio revela como a Ordem de São João do Hospital, ainda se mantinha na esfera de influência da família de Pedro Madruga, alguns anos após a alardeada morte do Conde de Caminha! O facto é que a noiva escolhida para Diogo era irmã de um Cavaleiro daquela Ordem e o tio materno de ambos era Fernão Cabreira, Alcaide-Mor do Crato e Amieira, castelos que pertenciam aos Hospitalários, sendo este último, juntamente com o de Belver atalaia de vigia sobre o rio Tejo, a montante de Abrantes, e apoio dos peregrinos a caminho do Santuário de Guadalupe em terras alcantarinas.

A rota de Guadalupe, aliás, deve ter sido seguida com alguma frequência por estas linhagens, pois D. Inês de Soutomaior, filha de D. Nuno que vimos na parte II deste artigo, casou em Cabeza del Buey com um fidalgo de Trujillo, e duas das cunhadas de Diogo Ribeiro de Soutomaior também casaram em Trujillo, na linhagem dos Chaves, muito enlaçada com os descendentes do Mestre da Ordem de Alcântara, D. Gutierre de Sotomayor. Neste particular, é interessante notar a devoção que Cristóvão Colón também dedicava à Virgem de Guadalupe, e também o próprio Rei Enrique IV que no seu tempo considerava aquele santuário como “el mas notable de mios regnos”.

Na vila de Abrantes se enraizou então a prole de Diogo Ribeiro de Soutomaior. A mesma vila que era cabeça de condado dos Almeidas, linhagem a que pertencia D. Diogo Fernandes, o então Prior do Crato, homem da máxima confiança do Rei D. João II, e que estava presente ao lado do soberano em Vale do Paraíso, no encontro com Cristóvão Colón no seu regresso da primeira viagem em 1493. Confiando nas palavras do cronista Rui de Pina, o Prior do Crato foi o anfitrião nos três dias que Colón passou naquelas paragens portuguesas do Ribatejo. A razão parece óbvia à luz de tudo o que acima foi ficando dito: para além da confiança nele depositada, quem melhor que o Prior da única Ordem em que Pedro Álvares de Soutomaior teve entrada e foi cavaleiro, para garantir o seu bem-estar e segurança num momento tão delicado da sua relação com Portugal?

Quase que apetece reproduzir na íntegra, a questão retórica deixada por Manuel Rosa, no seu Colombo Português: “Que segredos terão o Almirante e o Prior, membro da Junta, partilhado ao longo daquelas três noites?” E a manceba do Prior, Leonor Cabreira, tia da mulher do Alcaide do Alegrete, tê-los-á acompanhado nalgum momento, falando de coisas mais triviais, como o consórcio matrimonial de sua sobrinha Inês com Diogo Ribeiro de Soutomaior? Ou será que Diogo enviuvara bem cedo e os dois acertaram novo matrimónio, desta feita na casa dos Fernandes de Almeida, de Abrantes, familiares do Prior, como os genealogistas informam?

Desasseis anos depois deste encontro, morto já o Almirante Colón, D. Cristóvão de Soutomaior deixou a região alcantarina onde vivia, e partiu para as Índias Ocidentais. Morreu, dois anos mais tarde, numa revolta local. A notícia atravessou um Oceano, esfumou-se durante oito longas décadas num Portugal que sempre teimou em rejeitar o Almirante, e acabou registada no dito tabelião de Abrantes!

Não será lícito suspeitar? Não seria aquele Cristóvão, na verdade, Pedro Madruga? E o Soutomaior… Colón?

Mitos sobre Cristóbal Colón

Existe documentación y argumentos contundentes sobre el origen gallego de Cristóbal Colón, pero los mitos y falsedades que existen alrededor del Almirante han logrado crear una gran confusión, a lo largo de los años se fueron destruyendo sistemáticamente los originales  de documentos, registros o legajos, así como centenares de expedientes con millares de protocolos de la correspondencia de Colón y de sus hermanos, sustituyéndolos por copias adulteradas, dando lugar a varias falsedades y mitos, entre los más comunes tenemos:

 

Contrario a lo que se cree comúnmente el Almirante nunca tuvo que demostrar que la tierra era redonda, antes y durante la edad media nadie creía ni afirmaba que la tierra era plana, desde el s. III a. de C., salvo contadas excepciones, ninguna persona educada pensaba que la tierra era plana, el que daría inicio al mito de que en la edad media se creía que la tierra era plana fue el norteamericano Washington Irving, en una obra que escribió sobre Cristóbal Colón, en 1860. Filósofos, científicos y teólogos anteriores como Aristóteles, Ptolomeo, San Agustín, San Isidoro de Sevilla o Santo Tomás, algunos de los más influyentes en el período medieval, ya habían vaticinado que la tierra era esférica. No existe ningún comentario en ningún texto de Cristóbal Colón que aludiera a que hubiera tenido que convencer a nadie de que la Tierra era redonda.

 

Con este ejemplo se puede ver lo fácil que arraiga un mito o una falsedad, la historia de Colón se ha manipulado, está llena de mitos y falsedades, su origen genovés es otro ejemplo, Colón nunca dijo que fuera genovés, no hablaba genovés, italiano, ni ningún otro dialecto usado en la región, tampoco lo sabía escribir, Colón hablaba y escribía en castellano con giros o palabras gallegas, como se hablaba y escribía en Galicia, las fechas no concuerdan si nació en Génova en 1451 y hasta 1974  no salió de allí, no pudo estar navegando los 23 años que dijo el Almirante que navego, ni tampoco corresponde el tiempo que vivió en Portugal con lo que escribió el propio Colón, tampoco hay documentos que certifiquen que era genovés solo aparece una referencia en la «Institución de Mayorazgo” de 1498, un documento a todas luces falsificado que apareció 80 años después de la muerte de Colón, que ya en su día fue rechazado, su edad tampoco concuerda tenía alrededor de los 70 años al morir, como quedo demostrado en el reciente estudio de su ADN, si fuera genovés o extranjero se le debía exigir  que se naturalizara para recibir los títulos que le concedieron algo que no tuvo que hacer por ser natural de los reinos de Castilla.

 

La reina Isabel no tuvo que empeñar sus joyas, pese a lo que se cree los reyes católicos casi no aportaron dinero, la expedición no supuso un alto costo a la Corona, el retraso de la expedición se debió a la dificultad política que se resume a las relaciones con Portugal, tampoco fue un obstáculo la junta que nombraron los reyes para el estudio del proyecto, esta junta dictaría sentencia negativa contra el proyecto, y que además tenían razón los cálculos de Colón estaban equivocados, la junta no solo estaba compuesta por cosmógrafos, sino que además altos diplomáticos jurídico-políticos como el presidente, fray Hernando de Talavera que fue el que llevo a cabo las negociaciones  de paz con Portugal en el tratado de Alcazobas, lo que demuestra los tintes políticos que se analizaron, las relaciones en 1485 entre Castilla y Portugal eran tensas, llenas de amenazas y agravios por parte de las dos cortes.

 

Contrario de la opinión mal fundada no murió ni en la miseria ni nada por el estilo, murió con una cantidad de dinero bastante respetable, como lo demuestra en su testamento, conservando sus privilegios reales, existen muchos más mitos sin fundamentos que se han enquistado en la opinión general, que fomentan la confusión, con los cuales nos extenderíamos demasiado. Lo cierto y demostrable es su origen gallego.

Autor:  Manuel Doval

O Xadrez de Tordesilhas: Colón, “Alpedrinha”, Caminha – Parte 3 – O “Almirante”

O xadrez de TordesilasD. Jorge da Costa começou a sua carreira eclesiástica em 1463, eleito Bispo de Évora. No ano seguinte, deixava a prelatura do Alentejo e assumia o Arcebispado de Lisboa, cargo a que renunciaria apenas em 1500, a favor do seu irmão D. Martinho da Costa.

Poderá nesse início de carreira ter conhecido o cónego Pedro de Sotomayor quando aquele, já trintão, como se de um Deão se tratasse acorria por terra ou mar aos assuntos de maior peso referentes ao Cabido do bispado de Tui que seu irmão Álvaro mantinha em sede vacante e inacessível pela força da imposta “encomienda”, ao legítimo Bispo D. Luís Pimentel?

Será que no encontro dos soberanos ibéricos ocorrido no Mosteiro estremenho de Guadalupe em 64, no qual se negociaram casamentos de estado, houve D. Jorge da Costa notícia de que ao mesmo Pedro de Sotomayor, o rei Enrique IV pretendia elevar a titular da sede de Santiago, conforme documento apresentado por Gaspar Massó em Pedro Madruga de Soutomayor, caudillo feudal ?

E nos meandros da Corte portuguesa, nos anos setenta, quando Pedro de Sotomayor trocara já o celibato pelo casamento na casa de Távora, senhoriando o sul da Galiza por Portugal, quantas vezes se terão estes dois homens cruzado?

Inclusive na campanha de Toro, em meados desses mesmos anos, sabendo-se pela crónica de Damião de Goes que estiveram juntos ao lado de D. Afonso V, pois “(…) fez ElRey alardo da gente, que comsigo tinha, que com a que veyo (…) com D. Jorge da Costa Arcebispo de Lisboa (…)” e mais adiante, vendo o rei português o estandarte real pelo chão “(…) como desesperado se quizera lançar no meyo dos inimigos desejozo mais de achar quem o matasse, que de viver com desgosto (…)” acção suicida que foi evitada por conselho de uns poucos cavaleiros “(…) e D. Pedralvares de Soutomayor Conde de Caminha, que nesta peleja o sempre acompanharão (…)”.

Que provas poderemos encontrar do conhecimento e eventual amizade destes dois homens, para além de que ambos admiravam e faziam parte do estreito círculo de amigos de D. Afonso V de Portugal? Documentalmente, apenas uma: quando em 1635 D. Rodrigo da Cunha publica em Braga a sua Historia Ecclesiastica dos Arcebispos de Braga, e dos Santos, e Varoens illustres, que florecerão neste Arcebispado, afirmando a dado passo que uma das irmãs do Cardeal, D. Isabel Gonçalves da Costa, se casara com D. João de Sotomayor, filho natural do Conde de Caminha.

Sobre este, deixámos já noutro artigo publicado sob o título Pedro Madruga, Cavaleiro de São João de Rhodes. O tempo dos Navegantes, as razões da nossa convicção de que se chamara efectivamente D. Nuno de Sotomayor, e fora por sua mãe sobrinho do navegador e astrónomo Nicolau Coelho e parente próximo de Diogo Cão, o descobridor do Congo. É tempo de acrescentar novos dados que fortalecem essa hipótese.

Cerca de um ano após Tordesilhas, morreu o rei em Alvor. Sucedeu-lhe no trono o primo D. Manuel e não o filho bastardo D. Jorge, como D. João II tanto queria e talvez a única causa de peso que a vida lhe negou depois da morte prematura do Príncipe D. Afonso nas margens do Tejo. No concreto, negara-lho em Roma o “Cardeal de Alpedrinha”, por não ver nessa vontade o gosto da rainha D. Leonor, nem benefícios de maior para o reino. Assim, grosso modo, a D. Jorge da Costa devia o novo rei de Portugal a sua entronização. O genealogista Alão de Morais conta na sua Pedatura Lusitana de 1670 um curioso episódio revelador deste facto: D. Martinho da Costa “(…) sendo Arcebispo de Lxª acompanhou a ElRei D. M.el de Sacavém pª Lxª e porfiando no caminho sobre as terças das Igreijas q o Arcebpo, lhe não queria largar nem os outros Prelados, E dizendo lhe ElRei, cõ paixão / Não sei quem vos fez Arcebpo. / E elle lhe respondeu / Isso direi a vA. Fez me a mi Arcebpº quem a V.A. fez Rei / (…) E a resposta do Arcebispo não respondeo ElRei nada”.

Manuela Mendonça estabelece que “(…) é impossível falar de confiança mútua ou sequer relações cordiais(…)” entre o rei e o cardeal, sendo que este último lhe não reconhecia a autoridade de monarca, antes lhe exigindo “(…) uma atitude de gratidão permanente pelo trono que lhe oferecera”.

 

Poderemos assim encarar no âmbito de uma troca de favores, o cargo de Mestre-Sala de D. Manuel, eventualmente obtido para aquele Nuno de Sotomayor por intermédio de seu tio, o Cardeal. Veja-se um exemplo muito similar, citado no Nobiliário de Famílias de Portugal da autoria do genealogista Felgueiras Gaio, respeitante a D. Álvaro da Costa que aquele autor diz ser sobrinho do mesmo prelado e “(…) por respeito dele aumentado (…)”, tendo entrado “(…) Moço no serviço do Sr. Rey D. Manoel q nele pos os olhos e lhe deu o Dom e o fez seu Camareiro, e Armeiro e Provizor e Vedor da Fazenda da Rainha D. Leonor”.

A preocupação com a situação de familiares e amigos foi, aliás, uma das características mais notáveis de D. Jorge, o qual dos inúmeros cargos e benesses que foi acumulando, quase todos distribuiu, “(…) sobretudo na última fase da sua vida, por parentes e criados.”

Um exemplo disso é a sua relação de amizade com os Lucena, tendo patrocinado os estudos de Diogo de Lucena em Bolonha e de Álvaro de Freitas em Perusa, ambos sobrinhos do Dr. Vasco Fernandes de Lucena, Conselheiro de D. Afonso V e embaixador a Roma juntamente com D. Pedro de Noronha e Rui de Pina, na obediência de D. João II ao Papa Inocêncio VIII, em 1485. Espante-se, ou não, nesse tempo Fernão Vasques de Lucena, primo dos anteriores e um dos filhos deste Embaixador, pertencia em Castela ao Conselho dos Reis Católicos! Desconhecemos se com actuação pró ou contra Portugal!

Compreende-se deste modo que no seio estritamente familiar, rapidamente D. Jorge da Costa se tornasse o patriarca dos Costas de Alpedrinha, por quem passariam a grande maioria, senão a totalidade, das decisões e responsabilidades. Matrimónios incluídos, ou não tivesse sido já esse prelado encarregue da política de alianças do reino no tempo do rei Africano!

O ramo de Alpedrinha está no entanto ainda pouco estudado, quiçá por não haver suficiente documentação. A maior parte dos autores antigos, referem três casamentos ao pai do Cardeal e lhe dão vários irmãos e irmãs nascidos entre meados dos anos 20 e finais dos anos 60. Um deles, seu homónimo, nasceu em 1459 e veio a ser Arcebispo de Braga; porém, Manuela Mendonça demonstra documentalmente que esse era sobrinho e não irmão do “Cardeal de Alpedrinha”. Em condições semelhantes devemos considerar aquelas que levaram o patronímico “Gonçalves da Costa”, como D. Isabel, casada com o filho natural do Conde de Caminha, facto que coloca a cronologia do seu nascimento em finais da década de 50, princípios da seguinte, sendo Martim Vaz, o suposto pai de toda esta vasta prole quase septuagenário! Não sendo impossível, tende contudo a suscitar a dúvida.

Irmã de facto, ou sobrinha hipotética, o certo é que foi D. Jorge quem lhe tratou do matrimónio, o qual teve lugar entre Julho de 1476 e Junho de 1480, datas que marcam a concessão do Condado de Caminha a Pedro Alvarez de Sotomayor e a chegada de D. Jorge da Costa à Santa Sé. Deduz-se desta aliança não só a amizade e interesses que ligavam estes dois homens em finais dos anos 70, como também se prova a estreita relação de compadrio que desde então os uniu e se revelou elo fundamental no negócio de Tordesilhas de que vimos falando.

Resta-nos à guisa de conclusão, levantar um outro facto paralelo, infelizmente ainda não documentado que permite levar um pouco mais longe e com algum risco da nossa parte, a atribuição da identidade do Almirante Cristóbal Colón, ao Conde de Caminha. Refere-se ao casamento que o Cardeal conseguiu em Castela para outra das suas irmãs ou sobrinhas, D. Luísa Gonçalves da Costa que supomos um pouco mais nova que a já referida Isabel e portanto, nascida durante os anos 60 do século XV. Segundo todos os genealogistas portugueses, o marido escolhido terá sido um fidalgo castelhano chamado Cristóbal de Cardenas. A informação que deixam é seca e não adianta mais do que isto. Pertenceria este homem à linhagem dos Cardenas de Andujar? Seria por isso, de alguma forma parente próximo do Comendador-Mor de León na Ordem de Santiago D. Gutierre de Cardenas, protector de Colón, fiel servidor de Isabel, a Católica e outro dos subscritores por Castela do texto de Tordesilhas?

Não o documentam as genealogias e disso nos podemos hoje lamentar, pois da mesma forma se inviabiliza a sua hipotética identificação com um outro Cristóbal de Cardenas seu contemporâneo, residente em Sevilla, grande amigo e colaborador do notável pintor andaluz Alejo Fernández (c.1475-1545), autor do tema central de um retábulo conhecido como “Virgen de los Navegantes”, originalmente concebido para a Sala de Audiências da Casa de Contratación de Sevilla e hoje conservado na Sala dos Almirantes do Real Alcazar da mesma cidade.

O retábulo apresenta a Virgem elevada sobre o mar, cobrindo com o seu manto protector figuras eminentes da conquista do continente americano que se supõe serem os Reis Católicos, o Imperador Carlos V, Vespucio, Pinzón e Juan de La Cosa, entre outros. Ao nobre representado de perfil em primeiro plano à direita da Virgem tem sido atribuída a identificação de Cristóbal Colón e fazendo fé nas palavras de Manuel Rosa “(…) é o único retrato oficial de Colón sancionado pelo estado”. Estampa-se de facto, na descrição física que o filho lhe traça na Historia del Almirante Don Cristobal Colón, apresentando-o como “(…) hombre de bien formada y más que mediana estatura, la cara larga, las mejillas un poco altas, sin declinar á gordo ó macilento, la nariz aguileña, los ojos blancos, y de blanco de color encendido; en su mocedad tuvo el cabello blondo, pero de treinta años ya le tenía blanco”.

Assim o terão conhecido também em Córdova ou Sevilla, Fernandez e Cardenas, representando-o mais tarde conforme dele se lembravam, quiçá este último bem mais que o seu mestre, se o indocumentavel acaso o fizera cunhado de D. Nuno de Sotomayor!

Descrita que ficou a aparência do Almirante, não resistimos à opinião de dois homens de quinhentos referindo certas qualidades de duas personalidades aparentemente tão díspares como Colón e Madruga. Fernando Colón dá o mote: “(…) en el comer y beber y en el adorno de su persona era muy modesto y continente(…)”; glosa em seguida Vasco da Ponte, cronista galego, “(…) que nin daría un cornado por durmir fóra no inverno, nin en casa cuberta onde non atopase roupa, sabía durmir enriba dunha talla”; volta o primeiro a afirmar “(…) que era afable en la conversación con los extraños, y con los de casa muy agradable(…)”; remata por fim o cronista: “(…) era moi franco, trataba ben aos seus, pero era moi cruel cos seus inimigos(…)”.

Date Caesari quae sunt Caesaris.

O Xadrez de Tordesilhas: Colón, “Alpedrinha”, Caminha – Parte 2 – A “malha”

No jogo de Tordesilhas, prova-se a rede tentacular do rei de Portugal através do capítulo CLXVIII da Chronica dos Valerosos, e Insignes Feitos Del Rey Dom Ioam II, de Gloriosa Memoria, escrita pelo português Garcia de Resende nos anos 1530-34, no qual se pode ler que D. João II “(…) tanta parte tinha no conselho del Rey, e da Raynha de Castella, que tudo lhe logo era revelado antes de se fazer, e tinha maneira que ao Duque do infantado, e a outros senhores mandava dadivas, e merces publicas, pera os Reys de Castella se guardarem, e nam fiarem delles, porque sabia que não erão os do seu secreto, e aos de que mais se fiavão dava merces tão grandes, e tão secretas, que todolos conselhos e segredos lhe erão descubertos primeiro que nenhuma cousa se fizesse”.

Vinte anos mais tarde, Bartolomeu Las Casas mostrava-se indignado com a deslealdade portuguesa, reproduzindo e pormenorizando este texto no capítulo 87 da Historia de las Índias “(…) para aviso de los Reyes (…)” e concluindo-o com um desabafo em que refere “(…) cuánta es la maldad de los infieles consejeros, y como los Reyes viven y gobiernan en mucho trabajo”.

Veja-se o exemplo do Dr. Rodrigo Maldonado de Talavera, Ouvidor do Conselho dos Reis Católicos e um dos subscritores de Tordesilhas pela parte de Castela. Negociara já com Portugal o pacto de Alcáçovas-Toledo, passou a receber uma tença anual de 6 escravos “de 15 a 30 anos” do rei de Portugal desde Abril de 1483 (confirmada em 1497 por D. Manuel I) e foi um dos elementos escolhidos para integrar a Junta de Salamanca que três anos mais tarde avaliou negativamente o projecto de Colón. Citemos, uma vez mais Manuel Rosa: “Para que pagava D. João II ao Doutor Rodrigo Maldonado uma tença anual se não recebia nada de recompensa?”

Pela nossa parte, defensores de um Almirante a quem certo bufão do Imperador Carlos V chamará“ladrón que desesperó”, a pergunta vai ainda mais além: a quem serviu, na realidade, essa recusa da Junta de 1486, senão os interesses de um Portugal que se vira então confrontado com a fuga de informação que Colón procurava oferecer a Castela?

Conjecturas à parte, analisemos alguns dos elementos da “rede” de Tordesilhas.

Quem era nesse tempo mestre-sala de Isabel, a Católica? Martim de Távora, o irmão da Condessa de Caminha, “fugido” ou “enviado” para Castela anos antes, a coberto do “expurgo” do reino arquitectado por D. João II. Estava casado com Leonor Correia, irmã do capitão donatário da ilha açoriana da Graciosa e que já o fora de Porto Santo, Pedro Correia que a história colombina celebrizou como o cunhado do Almirante que segundo o mesmo Las Casas “(…) le certifico que en la isla de Puerto Sancto había visto outro madero venido com los mismos vientos y labrado de la misma forma, e que también havia visto cañas muy gruesas, que en un coñuto dellas pudieran caber trez azumbres de agua o de vino”.

Estas relações familiares estão registadas nos principais nobiliários portugueses e por elas se deduz a singular afirmação de que tanto Cristóbal Colón como o Conde de Caminha D. Pedro Alvarez de Sotomayor se podiam considerar, à luz das linhagens de antanho, como “cunhados” daquele Pedro Correia!

Já os deste apelido gravitavam entre o senhorio de Fralães, nos arredores de Barcelos e o de Goián, no sul da Galiza, nas margens do Minho frente à fortaleza de que era titular o Visconde D. Leonel de Lima, parente próximo e grande aliado do Conde de Caminha. Oriundos deste último solar, dois Gomes Correia, pai e filho, actuavam respectivamente como escudeiro e tesoureiro do Cabido de Tui, às ordens dos Sotomayor, conforme documentação levantada por Maria Sánchez Carrera em El Bajo Miño en el siglo XV. El Espacio y los Hombres, edição de 1997.

Manuel José da Costa Felgueiras Gaio, genealogista maior do século XIX português, identifica no seu Nobiliário de Famílias de Portugal, dois irmãos de parentesco muito próximo com todos os anteriores, apresentando a particularidade de serem netos de ambas as Casas – Fralães e Goián: Francisco e Gonçalo Correia. O primeiro contraiu matrimónio com uma sobrinha do “Cardeal de Alpedrinha”; o segundo foi criado do mesmo D. Jorge, não se especificando o tempo que o serviu, mas atendendo à cronologia tê-lo-á feito a partir dos anos 70 e, eventualmente, algum tempo já em Roma.

Retomemos a teia do “Príncipe Perfeito”.

Quem foram os seus dois negociadores e representantes presentes em Tordesilhas no dia 7 de Junho de 1494, na qualidade de embaixadores de Portugal? Rui de Sousa, o homem que o rei D. Afonso V enviara em Janeiro de 1475 a ” D. Fernando, e à Rainha D. Isabel, que em Valhadolid estavam em festas e justas reaes, notificando-lhes como por ser casado com a Rainha D. Joana filha legítima d’El-Rei D. Anrique, os reinos de Castella lhe pertenciam, requerendo-os e amoestando-os com as razões e protestações que n’isso cabiam, que se fossem dos ditos reinos e lh’os lheixassem livres”, segundo as palavras de Rui de Pina no capítulo CLXXIV da Chronica d’El-Rei D. Affonso V.

Quando, na sequência desta acção, o rei português invade Castela pela Extremadura, Pedro Alvarez de Sotomayor declara em Tui o sul da Galiza como terra de obediência lusa. Damião de Goes, no capítulo LII da Chronica do Sereníssimo Príncipe D. João, clarifica que “(…) se começou huma cruel guerra (…) que foy a mais crua, e sem piedade, que toda a das outras Comarcas, porque nella se fizerão muytas entradas, e danos de huma, e de outra parte, nas quaes entradas Pedralvres de Soutomayor, Gallego de nação, tomou a Cidade de Tui, e Bayona do Minho, e as teve por Portugal, com outros lugares visinhos, até fim destas guerras chamando-se Visconde de Tui, e fez continua, e brava guerra aos Gallegos, roubando, e destruindo muytos lugares de toda aquella Província.”

Essa guerra cruel, terminou na claudicação portuguesa de Toro, onde à laia de facto curioso, novamente um Correia se faz destacar, a fazer fé nas palavras de Rui de Pina, quando o Príncipe D. João na hora antes do recontro deu “(…) à sua gente por apellido S. Jorge e S. Christovão, S. Jorge por padroeiro de Portugal, e S. Christovão por devoção de Jorge Corrêa, Commendador do Pinheiro, que na mesma hora lh’o lembrou (…)”.

O que liga então este “Pedralvres de Soutomayor” a Rui de Sousa, ao lado de quem, aliás, também combateu em Toro? Igualmente sua mulher, a futura condessa D. Teresa de Távora, prima co-irmã daquele Embaixador, o que o levaria, na prática, a dirigir-se a Rui de Sousa como “Senhor meu Primo”.

Pela mesma ordem de ideias, o outro negociador de Tordesilhas, João de Sousa, seria igualmente primo do Conde de Caminha, por serem os dois embaixadores pai e filho.

Assim, envolvidos num importante assunto do reino relativo à descoberta das Índias e ao domínio dos mares, temos homens da estrita confiança de D. João II e se entendermos como certo que o titular de Caminha, Pedro Alvarez de Sotomayor, outrora conhecido como “Pedro Madruga” vivia ainda, sob a identidade do Almirante Colón, temos o “falso genovês” como charneira de todas estas personalidades: amigo do Rei, cunhado do Mestre-Sala dos Católicos, primo dos principais subscritores do texto de Tordesilhas. Para que tudo o que acima fica dito continue pleno de sentido, apenas fica por considerar qual poderia ser a relação do “Cardeal de Alpedrinha” D. Jorge da Costa, com o alter-ego de Cristóbal Colón.