O Xadrez de Tordesilhas: Colón, “Alpedrinha”, Caminha – Parte 2 – A “malha”

No jogo de Tordesilhas, prova-se a rede tentacular do rei de Portugal através do capítulo CLXVIII da Chronica dos Valerosos, e Insignes Feitos Del Rey Dom Ioam II, de Gloriosa Memoria, escrita pelo português Garcia de Resende nos anos 1530-34, no qual se pode ler que D. João II “(…) tanta parte tinha no conselho del Rey, e da Raynha de Castella, que tudo lhe logo era revelado antes de se fazer, e tinha maneira que ao Duque do infantado, e a outros senhores mandava dadivas, e merces publicas, pera os Reys de Castella se guardarem, e nam fiarem delles, porque sabia que não erão os do seu secreto, e aos de que mais se fiavão dava merces tão grandes, e tão secretas, que todolos conselhos e segredos lhe erão descubertos primeiro que nenhuma cousa se fizesse”.

Vinte anos mais tarde, Bartolomeu Las Casas mostrava-se indignado com a deslealdade portuguesa, reproduzindo e pormenorizando este texto no capítulo 87 da Historia de las Índias “(…) para aviso de los Reyes (…)” e concluindo-o com um desabafo em que refere “(…) cuánta es la maldad de los infieles consejeros, y como los Reyes viven y gobiernan en mucho trabajo”.

Veja-se o exemplo do Dr. Rodrigo Maldonado de Talavera, Ouvidor do Conselho dos Reis Católicos e um dos subscritores de Tordesilhas pela parte de Castela. Negociara já com Portugal o pacto de Alcáçovas-Toledo, passou a receber uma tença anual de 6 escravos “de 15 a 30 anos” do rei de Portugal desde Abril de 1483 (confirmada em 1497 por D. Manuel I) e foi um dos elementos escolhidos para integrar a Junta de Salamanca que três anos mais tarde avaliou negativamente o projecto de Colón. Citemos, uma vez mais Manuel Rosa: “Para que pagava D. João II ao Doutor Rodrigo Maldonado uma tença anual se não recebia nada de recompensa?”

Pela nossa parte, defensores de um Almirante a quem certo bufão do Imperador Carlos V chamará“ladrón que desesperó”, a pergunta vai ainda mais além: a quem serviu, na realidade, essa recusa da Junta de 1486, senão os interesses de um Portugal que se vira então confrontado com a fuga de informação que Colón procurava oferecer a Castela?

Conjecturas à parte, analisemos alguns dos elementos da “rede” de Tordesilhas.

Quem era nesse tempo mestre-sala de Isabel, a Católica? Martim de Távora, o irmão da Condessa de Caminha, “fugido” ou “enviado” para Castela anos antes, a coberto do “expurgo” do reino arquitectado por D. João II. Estava casado com Leonor Correia, irmã do capitão donatário da ilha açoriana da Graciosa e que já o fora de Porto Santo, Pedro Correia que a história colombina celebrizou como o cunhado do Almirante que segundo o mesmo Las Casas “(…) le certifico que en la isla de Puerto Sancto había visto outro madero venido com los mismos vientos y labrado de la misma forma, e que también havia visto cañas muy gruesas, que en un coñuto dellas pudieran caber trez azumbres de agua o de vino”.

Estas relações familiares estão registadas nos principais nobiliários portugueses e por elas se deduz a singular afirmação de que tanto Cristóbal Colón como o Conde de Caminha D. Pedro Alvarez de Sotomayor se podiam considerar, à luz das linhagens de antanho, como “cunhados” daquele Pedro Correia!

Já os deste apelido gravitavam entre o senhorio de Fralães, nos arredores de Barcelos e o de Goián, no sul da Galiza, nas margens do Minho frente à fortaleza de que era titular o Visconde D. Leonel de Lima, parente próximo e grande aliado do Conde de Caminha. Oriundos deste último solar, dois Gomes Correia, pai e filho, actuavam respectivamente como escudeiro e tesoureiro do Cabido de Tui, às ordens dos Sotomayor, conforme documentação levantada por Maria Sánchez Carrera em El Bajo Miño en el siglo XV. El Espacio y los Hombres, edição de 1997.

Manuel José da Costa Felgueiras Gaio, genealogista maior do século XIX português, identifica no seu Nobiliário de Famílias de Portugal, dois irmãos de parentesco muito próximo com todos os anteriores, apresentando a particularidade de serem netos de ambas as Casas – Fralães e Goián: Francisco e Gonçalo Correia. O primeiro contraiu matrimónio com uma sobrinha do “Cardeal de Alpedrinha”; o segundo foi criado do mesmo D. Jorge, não se especificando o tempo que o serviu, mas atendendo à cronologia tê-lo-á feito a partir dos anos 70 e, eventualmente, algum tempo já em Roma.

Retomemos a teia do “Príncipe Perfeito”.

Quem foram os seus dois negociadores e representantes presentes em Tordesilhas no dia 7 de Junho de 1494, na qualidade de embaixadores de Portugal? Rui de Sousa, o homem que o rei D. Afonso V enviara em Janeiro de 1475 a ” D. Fernando, e à Rainha D. Isabel, que em Valhadolid estavam em festas e justas reaes, notificando-lhes como por ser casado com a Rainha D. Joana filha legítima d’El-Rei D. Anrique, os reinos de Castella lhe pertenciam, requerendo-os e amoestando-os com as razões e protestações que n’isso cabiam, que se fossem dos ditos reinos e lh’os lheixassem livres”, segundo as palavras de Rui de Pina no capítulo CLXXIV da Chronica d’El-Rei D. Affonso V.

Quando, na sequência desta acção, o rei português invade Castela pela Extremadura, Pedro Alvarez de Sotomayor declara em Tui o sul da Galiza como terra de obediência lusa. Damião de Goes, no capítulo LII da Chronica do Sereníssimo Príncipe D. João, clarifica que “(…) se começou huma cruel guerra (…) que foy a mais crua, e sem piedade, que toda a das outras Comarcas, porque nella se fizerão muytas entradas, e danos de huma, e de outra parte, nas quaes entradas Pedralvres de Soutomayor, Gallego de nação, tomou a Cidade de Tui, e Bayona do Minho, e as teve por Portugal, com outros lugares visinhos, até fim destas guerras chamando-se Visconde de Tui, e fez continua, e brava guerra aos Gallegos, roubando, e destruindo muytos lugares de toda aquella Província.”

Essa guerra cruel, terminou na claudicação portuguesa de Toro, onde à laia de facto curioso, novamente um Correia se faz destacar, a fazer fé nas palavras de Rui de Pina, quando o Príncipe D. João na hora antes do recontro deu “(…) à sua gente por apellido S. Jorge e S. Christovão, S. Jorge por padroeiro de Portugal, e S. Christovão por devoção de Jorge Corrêa, Commendador do Pinheiro, que na mesma hora lh’o lembrou (…)”.

O que liga então este “Pedralvres de Soutomayor” a Rui de Sousa, ao lado de quem, aliás, também combateu em Toro? Igualmente sua mulher, a futura condessa D. Teresa de Távora, prima co-irmã daquele Embaixador, o que o levaria, na prática, a dirigir-se a Rui de Sousa como “Senhor meu Primo”.

Pela mesma ordem de ideias, o outro negociador de Tordesilhas, João de Sousa, seria igualmente primo do Conde de Caminha, por serem os dois embaixadores pai e filho.

Assim, envolvidos num importante assunto do reino relativo à descoberta das Índias e ao domínio dos mares, temos homens da estrita confiança de D. João II e se entendermos como certo que o titular de Caminha, Pedro Alvarez de Sotomayor, outrora conhecido como “Pedro Madruga” vivia ainda, sob a identidade do Almirante Colón, temos o “falso genovês” como charneira de todas estas personalidades: amigo do Rei, cunhado do Mestre-Sala dos Católicos, primo dos principais subscritores do texto de Tordesilhas. Para que tudo o que acima fica dito continue pleno de sentido, apenas fica por considerar qual poderia ser a relação do “Cardeal de Alpedrinha” D. Jorge da Costa, com o alter-ego de Cristóbal Colón.

El fuerte Navidad

Cristóbal Colón dejo su versión de los hechos siendo el autentico protagonista de los acontecimientos, en una bahía bien abrigada del litoral de lo que hoy es Haití, cuando el Almirante exploraba la Española, tuvo lugar un suceso que alteraría los planes de la expedición, en la noche del 25 al 26 de Diciembre de 1492, una falta de atención de Juan de la Cosa, piloto de la Nao “La Santa María” después acusado de traición, propició que la Nao encallase, no obstante las recomendaciones de Colón, confió el timón a un grumete que se durmió y al despertar con el ruido de las olas que rompían contra la costa al subir la marea, no supo dominar la nave y fue a dar contra un banco de arena, fue imposible recuperarla, pese a los esfuerzos de Colón y la tripulación que cortaron el mástil y con dos barcas trataron de tirar del casco “ La Santa María” se hundió en la arena.

 “Y díxoles el Almirante a el [maestre] y a los otros que halasen el batel que traían por la popa y tomasen un ancla y la echasen por la popa; y él con otros muchos saltaron en el batel…no viendo otro remedio, mandó cortar el mástel y alijar de la nao todo cuanto pudieron para ver si podían sacarla”.

Durante este suceso encontramos una de las aseveraciones más claras por parte del propio Colón de que era gallego, cuando en su diario dice:

 “…que si no fuera por la traición del maestre y de la gente, que eran todos o los más de su tierra, de no querer echar el ancla por la popa para sacar la nao, como el Almirante les mandaba, la nao se salvara”.

La Nao Santa María cuyo nombre original o como se conocía a la embarcación era Santa María “la Gallega”, fue construida en los astilleros de la Moureira en Pontevedra. En un contrato de flete suscrito en Pontevedra en 1489, se cita una nave llamada “Santa María, la gallega”, propiedad del pontevedrés Juan de la Cosa, dos de los testigos de este fletamento, Pedro de Foronda y García Ruiz, al igual que Juan de la Cosa, se embarcaron con Colón en el primer viaje al nuevo mundo, esta nave  realizo varios viajes, los cuales están documentados como el del día 5 de Julio que estuvo en el puerto de Bayona la carabela la «Santa María la Gallega»  llegaba cargada de sal, cuyo documento se comprueba por un contrato del siglo XV hecho ante notario, fue la nave capitana de Colón, además de ser la única aportación que hizo el Almirante al descubrimiento, Colón cuando se queja de “la traición del maestre y  de la gente que eran todos o los más de su tierra”  se refiere a la tripulación de la Santa María que procedían de las costas gallegas, la Santa María se construyo en Pontevedra, y siendo propiedad de Juan de la Cosa, es lógico pensar que la mayoría de los tripulantes fuesen de Pontevedra porque las naves no suelen cambiar de tripulantes aunque cambien de armador.

Gracias a la ayuda del cacique Guacanagarix  jefe de los nativos, los tripulantes  pudieron salvar el cargamento y los materiales de la embarcación. Colón toma la decisión de construir un fuerte con la madera de esa nave, al que llamó de la Navidad, donde hoy está la ciudad de Cabo Haitiano, la primera Colónia en tierras del Nuevo Mundo, en el “Fuerte de Navidad”, se quedaron 39 hombres al mando de Diego de Arana.

Juan de la Cosa, propietario de la Gallega, como castigo a su descuido debió de haber quedado en el fuerte pero se embarco con Colón en el viaje de regreso para cobrar su Nao, la prueba fue que los Reyes Católicos indemnizaron al maestre de la Nao con prebendas y exenciones por la pérdida de la nave.

Gracias a la alianza que había formado con el cacique Guacanagarix, le pidió que se ocupara de atender debidamente a los tripulantes que se quedaban mientras el regresaba en cuatro o cinco meses, por diversos motivos el Almirante tardo en regresar un año.

Al regreso del Almirante al Fuerte de Navidad se llevo una desagradable sorpresa al comprobar que todos los hombres que había dejado custodiando el Fuerte habían sido asesinados.

Las primeras palabras pronunciadas desde la Nao que avistó tierra en el nuevo mundo fue «emaisi»  expresión netamente gallega que significa «ciertamente», «pues sí».

 

Autor:  Manuel Doval