Baracoa: Portosanto de Colón

Se para o Almirante, a baía de Acul era tecnicamente o melhor porto do mundo[1] e por isso a baptizou com o nome do mar frente ao “seu” porto de Cambados, na ria de Arousa (Pontevedra), natural se torna perguntar, qual foi a terra que mais o encantou sobre as demais, e que nome lhe terá então dado?

Comparação entre o recorte costeiro das baías de Miel e Baracoa (Cuba), e Portosanto de Poio (Pontevedra)
Fonte: Google Earth

A baía de Baracoa (Cuba) é a resposta, e “Puerto Santo” a chave toponímica em causa.

Descobriu o local a 27 de Novembro, cerca de três semanas antes de fundear no tal porto que comparou a Cambados e chamou “Mar de Santo Tomé”. Era uma baía larga (Baía de Miel) que apresentava a Oeste uma outra mais pequena em concha, com características de porto (Baía de Baracoa). Deslumbrado, não regateou adjectivos para qualificar a terra que via, mas o primeiro escolhido, prova como a considerou desde logo, única: “Un singularíssimo puerto”.[2]

Bartolomeu de Las Casas afirma mesmo que o Almirante “dice maravillas de la lindeza de la tierra y de los arboles”, acabando por concluir, encantado, que “era la más hermosa cosa del mundo”. Logo chamou ao lugar “Puerto Santo”.[3]

Mas como parte dessa beleza lhe vinha das muitas ribeiras que desciam as suaves vertentes das suas encostas, autores há que afirmam que na ilha portuguesa de Porto Santo se inspirou Colón, para lhe atribuir o nome. Óbvia confusão com a hidrografia da paradisíaca ilha da Madeira, ali bem perto e contudo tão diferente da “ilha dourada”, nome porque também se conhece a ilha de Porto Santo, devido à cor do seu solo arenoso e da sua vegetação. Para além do mais não tem ribeiras, ao contrário da ilha vizinha. Não possui sequer cursos de água permanentes, e a pluviosidade é baixíssima. Nada mais distinto da baía de Baracoa de que vimos falando, onde os navios do Almirante foram obrigados a permanecer seis dias, por causa do vento e da muita chuva!

Não sendo pois crível que o modelo geográfico servisse de termo comparativo para o caso português, necessário se torna reverter para o modelo sugerido já em 1898 por Celso García de La Riega, na conferência que pronunciou na Sociedad Geográfica de Madrid, apresentando ao mundo a teoria de ser Cristobal Colón galego, oriundo de Pontevedra: a “pequeña ensenada de Portosanto, lugar de marineros, en la parroquia de San Salvador (Poio).[4]

Segundo opinião expressa por Alfonso Philippot Abeledo, a “semejanza de éste lugar com la Bahía de Miel, en Baracoa, quedó plenamente demonstrada a través de las oportunas filmaciones del matrimonio Mansfield, hechas a princípios de siglo (XX).[5] Aqui fica também outra achega a essa afirmação, através da comparação por imagens de satélite, das linhas de costa mencionadas. Tal como no caso de Acul / Cambados, a semelhança também aqui é gritante, permitindo que desse modo se possa levantar a fundamentada suspeição, de que o Almirante conhecia ao pormenor este ponto crítico da ria de Pontevedra que nela marca a desembocadura do rio Lerez.

Sendo esse conhecimento uma realidade, e repetindo o Almirante maravilhas de muitos dos locais descobertos, só uma grande empatia da sua parte poderia justificar que de entre todos, o único que lhe lembrava o “Portosanto” de Poio – onde provavelmente nasceu -, fosse “la más hermosa cosa del mundo”!

Quase como se Cristobal Colón nos tivesse deixado, deste velado modo, duas das suas mais notáveis impressões de foro íntimo:

PORTOSANTO – A MAIS FORMOSA TERRA DO MUNDO

CAMBADOS – O MELHOR PORTO DO MUNDO


[1] Navarrete, M. F. (1858). Coleccion de los viajes y descubrimentos que hicieron por mar los españoles desde fines del siglo XV (2ª ed., Vol. I). Madrid, España: Imprenta Nacional, pp. 248-253

[2] Ibidem, pp. 220

[3] Ibidem, pp. 224

[4] García de La Riega, C. (1899). Cristobal Colón. Español? Conferencia en sesión pública celebrada por la Sociedad Geográfica de Madrid. Madrid, España: Establecimiento Tipográfico de Fortanet, pp. 37

[5] Philippot Abeledo, A. (1994). La Identidad de Cristobal Colon (5ª ed.). (A. P. Abeledo, Ed.) Vigo, Galicia, pp. 146