«Terra Rubra»

Pôr-do-sol no rio Minho

Muito já se escreveu sobre o tema da expressão latina utilizada em determinada altura pelos irmãos Colón: » (…) DE TERRA RUBRA». Italianos, catalães, gregos e portugueses apresentaram já as suas razões, identificando todos eles inconclusivas posições geográficas para berço ou origem do Almirante e seu irmão. Espero contudo não incorrer em nenhuma falha, se disser que na Galiza, ainda se não apresentou qualquer teoria neste particular. Contudo, como a obra é vasta, desde já avanço as minhas humildes desculpas, se acaso tal houver já acontecido e eu o ignore.

Sem entrar em divagações sobre hipotéticos significados implícitos na conjunção de ambos os vocábulos, será concensual dizer que «TERRA» corresponde à definição de um dos quatro elementos, e «RUBRA», melhor dizendo em latim correcto «RUBERA», não é mais do que a cor vermelha muito intensa, também chamada «vermelhão». Até aqui nada de novo.

Acontece que em tempos muito remotos, certo rio da Península Ibérica era afamado e muito cobiçado por dele se extrair ouro, metal que faz rodar o mundo desde que há memória… E o seu leito cedo foi sujeito às devastadoras demandas eldoradas, resultando da sua exploração um lodo ocre-avermelhado, semelhante aos que se podem encontrar nas minas de ouro ou prata. Infelizmente, ou não, já na Idade Média se acabara há muito tal receita, ficando aos povos apenas sumida memória dos factos, parcamente documentada por esparsos testemunhos que, francamente, até o tempo consumiu.

Porém, algo subsistiu para nos fazer pensar: o nome que designava essa torrente de água. Uma designação que evocava a cor que então o rio parecia levar,  que às populações dos alvores do segundo milénio já não era dado observar, e que nos dias correntes, ante a evidência das suas águas da cor de qualquer rio, nos suscita descrença. Um caudal de água cristalina, a que chamavam «Vermelhão» pela cor das terras que cubria.

Podia ter-se chamado «Rubro», se acaso as águas o fossem. Mas assim não era. «Rubra» era a terra que lhe dava leito, e o rubor apenas transparecia nas águas; não era parte delas. Por isso o achavam de vermelhão pintado mas nunca tingido: «minio» como então se dizia; «Minho» como hoje se lhe chama. A fronteira natural entre Portugal e a Galiza. Por isto, «Terra Rubra» também é «Aqua Minio».

E nunca é tarde para lembrar Marcelo Gaya y Delrue que em 1953, muito longe ainda da tese de Philippot, escrutinava deste modo a origem de Colón: «(…) debía ser un galaico-portugués de la región de Tui (…) de uno de los pueblos que (…) cambió de nacionalidad (…) en 1479, en fin de la guerra de sucesión de Castilla». O retrato de Pedro Madruga… de «Terra Rubra»!

Baracoa: Portosanto de Colón

Se para o Almirante, a baía de Acul era tecnicamente o melhor porto do mundo[1] e por isso a baptizou com o nome do mar frente ao “seu” porto de Cambados, na ria de Arousa (Pontevedra), natural se torna perguntar, qual foi a terra que mais o encantou sobre as demais, e que nome lhe terá então dado?

Comparação entre o recorte costeiro das baías de Miel e Baracoa (Cuba), e Portosanto de Poio (Pontevedra)
Fonte: Google Earth

A baía de Baracoa (Cuba) é a resposta, e “Puerto Santo” a chave toponímica em causa.

Descobriu o local a 27 de Novembro, cerca de três semanas antes de fundear no tal porto que comparou a Cambados e chamou “Mar de Santo Tomé”. Era uma baía larga (Baía de Miel) que apresentava a Oeste uma outra mais pequena em concha, com características de porto (Baía de Baracoa). Deslumbrado, não regateou adjectivos para qualificar a terra que via, mas o primeiro escolhido, prova como a considerou desde logo, única: “Un singularíssimo puerto”.[2]

Bartolomeu de Las Casas afirma mesmo que o Almirante “dice maravillas de la lindeza de la tierra y de los arboles”, acabando por concluir, encantado, que “era la más hermosa cosa del mundo”. Logo chamou ao lugar “Puerto Santo”.[3]

Mas como parte dessa beleza lhe vinha das muitas ribeiras que desciam as suaves vertentes das suas encostas, autores há que afirmam que na ilha portuguesa de Porto Santo se inspirou Colón, para lhe atribuir o nome. Óbvia confusão com a hidrografia da paradisíaca ilha da Madeira, ali bem perto e contudo tão diferente da “ilha dourada”, nome porque também se conhece a ilha de Porto Santo, devido à cor do seu solo arenoso e da sua vegetação. Para além do mais não tem ribeiras, ao contrário da ilha vizinha. Não possui sequer cursos de água permanentes, e a pluviosidade é baixíssima. Nada mais distinto da baía de Baracoa de que vimos falando, onde os navios do Almirante foram obrigados a permanecer seis dias, por causa do vento e da muita chuva!

Não sendo pois crível que o modelo geográfico servisse de termo comparativo para o caso português, necessário se torna reverter para o modelo sugerido já em 1898 por Celso García de La Riega, na conferência que pronunciou na Sociedad Geográfica de Madrid, apresentando ao mundo a teoria de ser Cristobal Colón galego, oriundo de Pontevedra: a “pequeña ensenada de Portosanto, lugar de marineros, en la parroquia de San Salvador (Poio).[4]

Segundo opinião expressa por Alfonso Philippot Abeledo, a “semejanza de éste lugar com la Bahía de Miel, en Baracoa, quedó plenamente demonstrada a través de las oportunas filmaciones del matrimonio Mansfield, hechas a princípios de siglo (XX).[5] Aqui fica também outra achega a essa afirmação, através da comparação por imagens de satélite, das linhas de costa mencionadas. Tal como no caso de Acul / Cambados, a semelhança também aqui é gritante, permitindo que desse modo se possa levantar a fundamentada suspeição, de que o Almirante conhecia ao pormenor este ponto crítico da ria de Pontevedra que nela marca a desembocadura do rio Lerez.

Sendo esse conhecimento uma realidade, e repetindo o Almirante maravilhas de muitos dos locais descobertos, só uma grande empatia da sua parte poderia justificar que de entre todos, o único que lhe lembrava o “Portosanto” de Poio – onde provavelmente nasceu -, fosse “la más hermosa cosa del mundo”!

Quase como se Cristobal Colón nos tivesse deixado, deste velado modo, duas das suas mais notáveis impressões de foro íntimo:

PORTOSANTO – A MAIS FORMOSA TERRA DO MUNDO

CAMBADOS – O MELHOR PORTO DO MUNDO


[1] Navarrete, M. F. (1858). Coleccion de los viajes y descubrimentos que hicieron por mar los españoles desde fines del siglo XV (2ª ed., Vol. I). Madrid, España: Imprenta Nacional, pp. 248-253

[2] Ibidem, pp. 220

[3] Ibidem, pp. 224

[4] García de La Riega, C. (1899). Cristobal Colón. Español? Conferencia en sesión pública celebrada por la Sociedad Geográfica de Madrid. Madrid, España: Establecimiento Tipográfico de Fortanet, pp. 37

[5] Philippot Abeledo, A. (1994). La Identidad de Cristobal Colon (5ª ed.). (A. P. Abeledo, Ed.) Vigo, Galicia, pp. 146

EL PROYECTO DE COLÓN

Las relaciones en 1485 entre España y Portugal eran tensas, llenas de amenazas y agravios por parte de las dos cortes, el rey portugués  descubre una conjura por parte de los nobles para darle muerte, encabezada por el duque de Braganza  y el duque de Viseu junto con todos los Braganza, estos eran parte de la familia materna de la reina Isabel de castilla, conjura que termina con la muerte de Diego, duque de Viseu, asesinado de una puñalada por el propio rey Juan II de Portugal el 22 de agosto 1483, después de este suceso y descubierta la conjura contra el rey portugués los Braganza huyen de Portugal en busca de refugio y amparo de la reina  Isabel, con lo que el rey portugués acusa a la soberana de Castilla de fomentar conspiraciones contra él y amenaza hacer salir a la “excelente señora” doña Juana “la Beltraneja” del enclaustramiento en que debía estar reducida conforme al convenio de Alcazobas.  Para la reina Isabel aquella amenaza era la más perturbadora que se le podía hacer por la consecuencia que traía consigo, se tuvo que hacer un gran esfuerzo de la diplomacia para mantener los términos de la “hermandad”.

Portugal, en ese entonces era la mayor potencia naval conocida, y tanto las rutas nuevas como otros asuntos relacionados con la navegación pertenecían al acuerdo de “sigilo y secreto” portugués, al que contadas personas tenían acceso. Pedro Álvarez de Sotomayor, Conde de Camiña, por supuesto que estaba incluido en esas selectas personas, Colón dijo que él había estado presente cuando Juan II recibió, en dos ocasiones, información secreta de asuntos navales, dos notas escritas de su puño y letra:

         “El Rey de Portugal envió a Guinea en el año del Señor de 1485 al maestro José su físico y astrólogo, para reconocer la altura del sol en toda Guinea. Este cumplió con todo y dio cuenta al dicho serenísimo rey, cuando yo me encontraba presente, en este año de 1488, en el mes de Diciembre, atracó en Lisboa Bartolomé Díaz, capitán de tres carabelas, que había enviado el serenísimo rey de Portugal a Guinea… Y dio cuenta al serenísimo rey como navegó más allá de lo ya navegado 600 leguas…El viaje lo dibujó y lo escribió legua a legua con una carta de marear, para presentarlo ante los ojos del serenísimo rey. En todo estuve presente.”

Pedro A. de Sotomayor (Pedro Madruga) al ver que las gestiones en su favor ante los Reyes Católicos no daban resultados, y los parientes que tenía en la corte no pudieron hacer que le restituyeran sus dominios ni sus fortalezas, decide trasladarse en 1486 a Salamanca, con el objeto de pedir perdón a los Reyes Católicos y exigir la devolución de sus bienes.

Esto fue muy oportuno para los Reyes Católicos, se oponen a restituirle su señorío pero pueden utilizar a Pedro A. de Sotomayor para conocer los secretos de navegación portuguesa, a cambio de nuevos títulos y bienes, el de Sotomayor,  les presenta el proyecto de una nueva ruta hacia las indias, ya que Portugal les está llevando la delantera, ya habían llegado al cabo de Buena Esperanza, los monarcas acceden exigiéndole un cambio de identidad, de ahora en adelante será conocido por su nombre materno Cristóbal Colón, tanto los reyes como otras personas eran consientes de esta doble identidad, convirtiéndolo en secreto de estado, el secretismo que le impusieron a Colón esta en correlación al secretismo de los Reyes en su política internacional.

Portugal había realizado en 1486 una expedición comandada por Fernáo Dulmo y Alfonso de Estreito en busca de las «Siete Ciudades» (tierras pobladas)  se trataba de una acometida perfectamente relacionable con la de Cristóbal Colón.

La fecha en la que se sabe que estaba Pedro A. de Sotomayor en Alcalá de Henares, 20 de Enero de 1486, bajo la protección del Duque de Alba, es  exactamente la misma fecha  en que aparece Colón por primera vez y desaparece Pedro A. de Sotomayor (Pedro Madruga), fue cuando aparece Colón en la historia, nada anterior a esta fecha hace referencia a Colón, los datos que se cuentan de Colón anterior a esta fecha fueron escritos después de 1486.

El viaje descubridor iba mucho más lejos que el coste económico, si se encontraba algo, habría de ser mantenido con las armas frente a Juan II, ese era el verdadero coste del proyecto, para los monarcas la autorización del proyecto en 1486 era un imposible, tendrían que mantener la guerra de conquista granadina y el conflicto permanente con el rey de Francia, o con la regente, que prometió que no se daría solución mientras no hubiera devolución del Rosellón y la Cerdaña, se abriría un enfrentamiento bélico con Portugal, era impensable pelear tres guerras al mismo tiempo.

Los reyes católicos nombraron una junta de cosmógrafos presidida por Hernando de Talavera, para el estudio del proyecto que presento Colón, esta junta dictaría sentencia negativa contra el proyecto, que además tenían razón, los cálculos de Colón estaban equivocados.

La junta no solo estaba compuesta por cosmógrafos, sino además por altos diplomáticos jurídico-políticos como el presidente, fray Hernando de Talavera que fue el que llevo a cabo las negociaciones  de paz con Portugal en el tratado de Alcazobas, lo que demuestra los tintes políticos que se analizaron.

El verdadero obstáculo para la realización del proyecto no fue de orden científico pues este no fue tomado en cuenta, tampoco de orden económico pues no represento grandes inversiones, solo queda la dificultad política que se resume a las relaciones con Portugal.

Los Reyes Católicos no toman en cuenta el resultado desfavorable de la junta al proyecto de Colón, todo lo contrario le proporcionan ayudas económicas, tuvo el favor real desde 1486 a 1489 y de 1490 a 1491, al parecer los católicos relajan el favor real cuando se a crecentan las relaciones entre la corona portuguesa y la de castilla, los tratos de Colón con los Reyes Católicos se constituían desde su comienzo en problemas de orden de estado, vinculado principalmente con Portugal.

Los Reyes Católicos buscando un enlace matrimonial que los beneficiara políticamente  y en vista que el heredero al trono portugués todavía no había cumplido los quince años, deciden enviar a Nápoles al comendador Jerónimo González en febrero de 1487 a negociar con el rey Ferrante el matrimonio de su hija con el heredero del duque de Calabria, negociación que no fructifico, además al no tener las prometidas entregas territoriales por parte del Sultán de Granada conocido como el Zagal, tuvieron que emprender una gran campaña para conquistar los territorios en manos de musulmanes, lo que menos necesitaban era otro conflicto especialmente la reina Isabel, como el que representaría que el rey portugués sacara de su enclaustramiento a la “excelente señora” Juana la Beltraneja, la solución fue el envío de Sancho Machuca a Portugal en mayo de 1488 a fin de refrescar la memoria del rey portugués  sobre el tratado de Alcazobas  en el que estipula el posible enlace matrimonial del príncipe Alfonso con la hija de los Reyes Católicos, para la solidez de unas relaciones fraternas.

Aquella gestión fue bien recibida por el rey portugués, a la vez que el príncipe Alfonso se acercara a cumplir los quince años, la reina Isabel no pondría ningún obstáculo para la realización del matrimonio.

Colón y su proyecto se convirtieron en un instrumento secundario, al que no se le daría uso inmediato, Colón no se quedo de brazos cruzados ante los acontecimientos, empezó a buscar otras alternativas, envía a su hermano Bartolomé Colón a Londres, para ofrecer su proyecto al Rey Enrique VII, en febrero de1488 Bartolomé se encuentra en la corte inglesa ofreciendo un mapa de la ruta a las indias, mientras el propio Cristóbal Colón a principios de 1488 escribe desde Sevilla al rey portugués y prepara un viaje a Portugal como sabemos por la notoria contestación con la que respondió el propio rey portugués desde Avis, el 20 de marzo de 1488 en donde lo trata de “nuestro especial amigo en Sevilla” y  le ofrece tenerle por servidor, otorgándole un salvoconducto para su estancia en Portugal, Colón también envía una carta a los monarcas de Francia ofreciéndoles su proyecto.

A su regreso de Portugal en 1489 encuentra Colón un distanciamiento de los reyes católicos hacia su proyecto, dejo de tener la importancia que en un principio le atribuyeron, los monarcas ya no le conceden audiencia, Colón trata de presionarlos haciéndoles llegar las cartas de aceptación que ha recibido de los monarcas de Portugal, Inglaterra y Francia.

Las relaciones entre Castilla y Portugal se vuelven cordiales después de firmar en 1490 los acuerdos para la boda de Alfonso, hijo del rey portugués, con Isabel hija de los reyes católicos.

Todo volvería a cambiar tras la inesperada muerte del príncipe Alfonso, el 12 de Julio de 1491 de una caída de caballo, el rey portugués queda completamente consternado al no tener heredero legítimo, ni tampoco tenía esperanza de llegar a tenerlo. La infortunada viuda doña Isabel fue devuelta a Castilla después de la tragedia, en ese momento Colón vuelve a recuperar el favor real, y vuelve a tener relevancia el proyecto del viaje a las indias.

Manuel Doval

Cambados: o porto da discordia

Comparação entre o recorte costeiro de Acul (Haiti) e Cambados (Galiza)
Fonte: Google Earth

Enrique Zas provou pela primeira vez ao mundo há cerca de noventa anos, que Cristóbal Colón conhecia detalhadamente os portos de Cambados e Santo Tomé, na ria de Arousa. O facto por vezes esquecido de alguns, foi-nos há dias relembrado por Rodrigo Cota, aqui mesmo em “Colonianos”.No seu livro de 1923 “Galicia, Patria de Colón”, Zas apresentou dois mapas traçados à mão: o da baía de Acul, no actual Haiti, a que Colón chamou originalmente «Porto de la Mar de Santo Tomé”; e o da enseada de “Santo Tomé do Mar”, a sul de Cambados que já levava essa designação muito tempo antes da existência do Almirante. Depois reafirmou: “es sorprendente la semejanza de este puerto de Santo Domingo (…) com el que existe en Cambados (Galicia) (…). No es pues solo la configuración sino que también el denominativo, lo que ofrece singular semejanza”.[1]

Nos comentários à entrada em “Colonianos” acima referida, já Fernando Alonso provou por imagens do Google Earth que, além de não ter havido manipulação da parte de Zas, a realidade apresenta as mesmas semelhanças da cartografia. Saliente-se que o relevante não é o serem idênticos que, de facto, não o são e só por milagre o seriam; o que se regista é a sua semelhança morfológica.

Dir-se-ia que Enrique Zas só pecou por não ter sido tão ambicioso na comparação. De facto, entrando no “mar de Cambados” (pedaço da ria frente ao porto daquele nome), as semelhanças são ainda mais gritantes. E é esta outra “prova irrefutável” da comparação entre Acul e Cambados.

Não só esta, como outra que fará o corpo deste texto, baseada na seguinte dedução lógica: se Colón honrou além-mar aquele porto galego que bem conhecia, e os Soutomaior em 100 anos dele usufruíram e por ele litigaram; então COLÓN podia ser um SOUTOMAIOR!

Vista de Cambados sobre o Oceano Atlântico

De facto, em Agosto de 1371[2] o arcebispo de Santiago, reconhecido pelos serviços daquele que fora até então o arcediago do Salnés, D. Álvaro Pais de Soutomaior, concede-lhe entre outras freguesias, Cambados e Santo Tomé (de Nogueira).

Segundo Otero Pedrayo, foi o otorgamento também feito em nome da sua mulher D. Maior de Grés e Moscoso, e em mais duas vidas que lhes sucedessem[3]. Sendo esta senhora sobrinha-neta do arcebispo, deduz-se ter este benefício sido feito, à guisa de dote do matrimónio que ocorreu durante esse mesmo ano, tendo previamente o Soutomaior renunciado aos votos religiosos, para também suceder na Casa paterna, morto que estava o irmão primogénito, precocemente e sem geração.

Conforme sugere Villaverde Román[4], essas decisões unilaterais geravam por vezes sobreposições de interesses entre o arcebispado e as ordens militares que dispunham de jurisdição nos mesmos territórios. Esse foi um dos casos que obrigou a concertação posterior com as ordens do Santo Sepulcro e do Hospital.

Independentemente do processo seguido, a vila e porto de Cambados pertenceu à Casa de Soutomaior desde 1371, na condição de foreira com jurisdição civil e criminal, “alto vajo misto ymperio com sus pechos y derechos y todas las rentas y derechuras del mar y de la tierra y el patronasgo de las yglesias y benefícios”. E da mesma forma lhes pertenceu a jurisdição do porto de Santo Tomé.[5]

Morto Álvaro Pais algures na transição para o século XV, sobreviveu-lhe a viúva que em 1416 ainda vivia na vila, no “pazo e courral deso o piñeiro”, na condição de sucessora no foro, datando desse ano uma escritura em que nomeia os netos Fernan Yañez de Soutomaior e Lope Sánchez de Ulloa, como sucessores “para después de sus dias”.[6] É de crer que se terão cumprido “esses dias” à volta de 1421, uma vez que em Junho desse ano os novos foreiros, sob o testemunho do notário de Pontevedra Alfonso Perez, acertam os pormenores da partição daqueles bens pela metade[7].

Vista sobre O Grove e entrada da enseada de Santo Tomé do Mar, com as ruinas da torre de San Sadurniño.
Foto de J. Mosteiro

Meio século se havia já passado em que os Soutomaior estiveram na posse plena de Cambados. A partir deste acordo de 1421, o aforamento daquela vila portuária e também do porto de Santo Tomé, para além do extenso rol de freguesias, coutos e lugares que lhes estava associada pela concessão do arcebispo Moscoso, passou a ser considerado “pela metade”, entre os Soutomaior e os Ulloa.

Bem sintetiza aquela época da Galiza feudal, o facto de dois nobres de relevância repartirem e estipularem entre si, que bens ficariam ao Santo Sepulcro e quais caberiam aos Hospitalários de São João! A cada um deles, ficava o encargo de 400 maravedis anuais: 200 ao Comendador de Toroño (Ordem de São João); e outros 200 ao Comendador de Pazos de Arenteiro (Ordem do Santo Sepulcro). Magra quantia para decerto bem maiores rendas que a tenência daqueles territórios gerava.

E o interesse na sua posse demonstra-se pela simples leitura das mandas testamentárias ditadas à beira da morte em 1440, pelo primeiro daqueles cavaleiros: a sua sucessão deveria caber sem reservas ao filho único, Álvaro, ainda solteiro; se aquele não viesse a gerar herdeiro legítimo, herdava a tia D. Maior de Soutomaior; e ainda depois desta, caso o “problema” subsistisse, ficaria contemplada a sucessão na Casa àquele Ulloa, mas só na condição de “que tome el apelido, e armas de Sotomayor, e que si lo ansi non ficier e que non pueda haver, ni heredar cosa alguna dello”.[8]Na opinião de Suso Vila, as referidas partições viriam, já na década seguinte, a servir de arras e dote no casamento dos primos Álvaro de Soutomaior e Maria de Ulloa, filhos respectivamente de Fernan Yañez e Lope Sánchez[9]. Procurava-se deste modo, reunir de novo o pleno de Cambados sob tutela dos Soutomaior.

Fachada do pazo que Maria de Ulloa fez reconstruir na metade final do século XV, sobre o antigo pazo onde viveu D. Maior de Grés e Moscoso até cerca de 1420

Sem que a mulher fosse capaz de engendrar um herdeiro, e talvez influenciado pelo exemplo paralelo do rei Enrique IV de quem era próximo, Álvaro de Soutomaior procurou anular o casamento junto da Santa Sé, aparentemente sem nunca o conseguir. Morreu em 1468, na defesa de Tui frente aos “irmandiños”, deixando a viúva como única foreira de Cambados. Remodelaria os velhos pazos e seria promotora da igreja de Santa Mariña do Dozo.

Entretanto, legitimado pelo falecido irmão com autorização expressa de Enrique IV[10], Pedro Madruga, com o apoio, entre outros, do arcebispo de Santiago D. Alonso de Fonseca, derrota a rebelião “irmandiña”, tomando posse de todos os bens “muebles y rraizes” que haviam pertencido àquele Álvaro de Soutomaior. Recuperado o património, serenou-se a nobreza galega nos alvores da década de 70. Só o prelado de Santiago tentava reaver os bens do arcebispado, sob o controle das linhagens mais relevantes.

Contudo em 1471 decorrido que estava exactamente um século desde a concessão inicial, o porto e “vila velha” de Cambados, juntamente com o povoado marinheiro de Santo Tomé do Mar, pareciam afastar-se irremediavelmente da Casa de Soutomaior: insinuava-se o arcebispo Fonseca à viúva Ulloa, com os olhos postos no rendoso “mar de Cambados”!

Vista sobre a entrada da baía de Acul (Haiti).
Foto de Nick Hobgood

Baseando-se em documentos do “Preito Tabera-Fonseca”, Suso Vila ressalta que a delicada situação se pretendeu resolver no seio da própria linhagem, promovendo-se o casamento da libertina viúva com outro Soutomaior, da Casa de Lantañón, filho primogénito do mariscal Sueiro Gómez. Reagiu o arcebispo a contento da amásia, prendendo os referidos cavaleiros e nela gerando Diego, futuro titular consorte do condado de Monterrey[11]. Desse modo se consumava em 1473 aquele concubinato, agravando ainda mais a honra da linhagem do defunto marido, uma vez que, como muito claramente expõe Molinero Merchán, a honestidade das viúvas fazia a honra dos homens da família, “assim como a virgindad en las doncellas y fidelidad en las casadas”.[12] Nisso concorda Suso Vila, para quem o amancebamento de Maria de Ulloa acarretar-lhe-ia a“ perda das arras, e polo tanto da metade de Cambados”.[13]

Pedro Madruga não tardaria a ocupar aquela vila portuária e todo o couto de Nogueira que lhe estava associada. Por isso muito do ódio desenvolvido entre D. Alonso de Fonseca e o futuro visconde de Tui e conde de Caminha, ter-se-á originado nesta disputa por Cambados que se manteve latente ao longo de toda a década de 70.

A instância do senhor de Soutomaior, no ano de 1474 frei Juan de Valenzuela, prior de Leão e Castela na ordem de São João de Jerusalém, apresentou no capítulo de Cuenca, a escritura de 1371, vendo confirmados o seu teor, forma e cláusulas, por se considerarem ainda úteis e proveitosas para os Hospitalários[14]. Ficava assim ganha por Pedro Álvares de Soutomaior, a batalha legal pela metade de Cambados e Nogueira.

MAR DE SANTO TOMÉ
(Nome dado por Colón em Dezembro de 1492)

É sabido que Enrique IV morreu nesse final de ano, deixando o trono de Castela numa indefinição que levou à guerra peninsular opondo Isabel e Fernando de Aragão, a Juana e Afonso de Portugal. Também é lugar-comum que aos primeiros apoiou na Galiza o arcebispo Fonseca, enquanto os segundos tiveram o suporte incondicional de Pedro Madruga. Subitamente, conseguia a guerra por Cambados, um registo ibérico insuspeitado!

Saindo embora derrotado dessa meia década de contendas, o Conde de Caminha viria ainda assim a receber o perdão dos Reis Católicos em Março de 1480, recuperando todos e “qualesquier bienes que, por cabsa de haver servido e seguido al dicho rey de Portogal, le fuesen tomados e ocupados”.[15] Por certo que o assunto dos portos de Cambados e Santo Tomé do Mar, não se resolveu com a mesma facilidade do porto de Cangas, ou das fortalezas de Soutomaior e Fornelos, sobre que não havia dúvidas acerca da sua posse efectiva antes da guerra peninsular. Fonseca, no lado vencedor, pressionava contra a pretensão de Madruga em reaver a metade daqueles territórios, e não acatava a carta[16] que nesse sentido fora enviada a Maria de Ulloa, pela chancelaria real na mesma data.Finalmente, em Abril de 1484, as demandas de um e outro lado parecem ter a solução à vista: Isabel a Católica manda nominalmente que se restitua “a don Pedro Alvarez de Sotomayor, conde de Camiña, los lugares de Cambados y Noguera”.[17]

Avança o conde mais do que a conta, ocupando igualmente a metade que lhe não competia. Reage o arcebispo em defesa da manceba e quatro meses volvidos, novo documento da rainha afasta definitivamente Pedro Madruga da metade de Maria de Ulloa.[18]  Ficava reposta a verdade legal, cabendo no entanto ao Soutomaior algum amargo de boca!Os anos seguintes testemunham o declínio do conde de Caminha, a sua hipotética morte e sucessão do primogénito D. Álvaro de Soutomaior, incapaz de suster a pressão legal imposta sobre muitos dos seus bens. Alonso de Fonseca, procurando a revanche das humilhações que sofrera às mãos do pai do novo titular da Casa, ocupava militarmente os portos atlânticos dos Soutomaior: Cangas e Cambados. A morte de Álvaro, assassinado em 1495, marca o fim da posição dominante da linhagem no trato de mar das rias galegas.

SANTO TOMÉ DO MAR
(Nome antigo e ainda em uso para o «mar de Cambados»)

Nessa altura porém, é de crer que Pedro Madruga vivia ainda, sob a identidade de Cristóbal Colón, procurando reconstruir um novo potentado marítimo para senhorear enquanto “Visorey y Governador General” , e oito anos não eram suficientes para esquecer o orgulho de um século. Santo Tomé do Mar de Cambados por certo continuaria a ser a “menina dos olhos” do Almirante.

A 21 de Dezembro de 1492, reconhecendo a costa do Haiti, deslumbrava-se com certo porto, “hermosíssimo” no seu parecer, cuja entrada desde o mar pareceria “impossible a los que non hubiesen en él entrado, por unas restingas de peñas que pasan desde el monte hasta casi la isla, y no puestas por orden, sino unas acá y otras acullá, unas a la mar y otras a la tierra”.[19] Podia ser o retrato da entrada desde o Atlântico, no mar de Cambados… em Santo Tomé do Mar.

Descrevia ainda que a Oeste da entrada do porto havia um canal com uma boca que dava acesso a uma enseada ideal “para todos los ventos que puedan ventar”, fechada e profunda. A “boca” que a guardava era “muy cerrada de dos restingas de piedra que escassamente la ven sobre agua”. Parecia ter sido feita à mão, deixando “una puerta abierta cuanto los navios puedan entrar”. Só quem nunca viu a enseada de Santo Tomé do Mar e as suas ilhotas rasas à água guardadas pelos escombros de San Sadurniño, pode deixar de reconhecer aqueles traços familiares descritos por Colón

Na posse do diário do Almirante, pôde o padre Bartolomeu de Las Casas resumir o sentir maravilhado do descobridor[20]: “Es el mejor del mundo; púsole nombre el Puerto de la Mar de Santo Tomé, porque era hoy su dia[21]: dijole mar por su grandeza”.


[1] Zas, E. (1923). Galicia, Patria de Colon. (C.P.-C. Habana, Ed.) Habana, Cuba, pp. 32-33.

[2] Rodríguez González, A. (1992). Documentación Medieval del Archivo Histórico Diocesano de Santiago. Compostellanum XXXVII, Nº 3-4, pp. 381

[3] Otero Pedrayo, R. (1951). Bienes y derechos de los caballeros sanjuanistas en tierra de Morrazo y villa de Pontevedra. El Museo de Pontevedra, VI, pp. 33

[4] Villaverde Román, X. C. (1999). As xurisdiccións nas freguesías moañesas durante a Idade Media. (B. P. Moaña, Ed.) Obtido em 26 de Maio de 2012, de Biblioteca Publica de Moaña: http://moana.servidores.net/libros/freguesias.htm

[5] Tato, I. G. (2004). Las Encomiendas Gallegas de la Orden Militar de San Juan de Jerusalén. Estudio y edición documental (Vol. I). Santiago de Compostela, Galicia: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Xunta de Galicia, Instituto de Estudios Gallegos «Padre Sarmiento», pp. 59

[6] ibidem, pp. 61

[7] Martínez, C. P. (2007). Documentos da Orde do Santo Sepulcro en Galicia. Anuário Brigantino, 30, pp. 220-221

[8] Vila, S. (2010). A casa de Soutomaior (1147-1532) (1ª ed.). Noia, Galicia: Editorial Toxosoutos, pp. 448-449

[9] ibidem, pp. 274

[10] ibidem, pp. 461-465

[11] ibidem, pp. 288-289

[12] Molinero Merchán, J. A. (2007). El convento de Santa Clara de la Columna de Belalcázar. Estudio Histórico-Artístico. Córdoba, España: Diputación Provincial de Córdoba – Delegación de Cultura, pp. 62

[13] Vila, S. (2010), pp. 274

[14] Tato, I. G. (2004), pp. 259

[15] La Torre, A., & Fernandez, L. S. (1960). Documentos referentes a las relaciones con Portugal durante el reinado de los Reyes Catolicos (Vol. II). Valladolid, España: Consejo Superior de Investigaciones Cientificas. Patronato Menedez Pelayo, pp. 22-25

[16] AGS. RGS,LEG,148003,343. 7 de Março de 1480

[17]  La Torre, A., & Fernandez, L. S. (1960), pp. 289

[18] Vila, S. (2010), pp. 275

[19] Navarrete, M. F. (1858). Coleccion de los viajes y descubrimentos que hicieron por mar los españoles desde fines del siglo XV (2ª ed., Vol. I). Madrid, España: Imprenta Nacional, pp. 248-249

[20] ibidem, pp. 253

[21] A co-relação entre a data e a festa litúrgica do santo é um facto circunstancial, e não justifica por si só a designação escolhida, face à associação dos termos “Porto” e “Mar”, e à evidente semelhança geográfica com o “mar de Cambados”.

 

Mussolini contra el Colón Gallego. La compra de Ángel Altolaguirre.

No es la primera vez que se publica el documento de arriba. Lo hizo en el año1987 la revista «Cristóbal Colón» que dirigía don Xosé Lois Vila Fariña, a quien hoy nadie se molesta en mencionar. Diría incluso que hay quien se molesta en que no sea mencionado, vaya usted a saber por qué. También lo reprodujo Philippot, algo después. Y anteriormente, el Sr. Modesto Bará había ya dado cuenta de la existencia del papelote, tan molesto para los genovistas. El documento tiene su propia historia, que trataremos de resumir.
Tras la publicación de la obra del gran Celso García de la Riega, «Colón Español», Génova se puso muy nerviosa. La teoría que hablaba de un Colón Gallego no gustaba en Italia y se expandía por el mundo de manera imparable. La cuestión trató de desactivarse tachando de falsa la documentación aportada por García de la Riega. No se consiguió del todo, pues varios de los documentos fueron declarados totalmente válidos, pero la duda estaba sembrada. En Galiciase siguió trabajando. Aparecieron nuevos documentos, que serían publicados pordon Prudencio Otero, y que demostraban de una manera simplemente irrebatible la existencia del apellido Colón en Pontevedra en tiempos del descubridor. Eso ya era demasiado para Génova. La cuna de su Colombo se desplazaba hacia Galicia y, sencillamente, no lo podían consentir. Decidieron comprar a la Academia de la Historia española, que era la encargada de dirimir estos asuntos. En 1922 escribieron, desde la ciudad de Génova, esta carta, dirigida al agregado militar en la embajada de Italia en Madrid. En ella, entre otras cosas, se dice:»(…) las pretendidas reivindicaciones del origen español de C. Colombo defendidas ahora por Prudencio Otero Sánchez valen desde el punto de vista científico los mismo que las de García de la Riega, las cuales fueron ya demostradas como completamente infundadas.«Lo cierto era que los documentos que estaba a punto de publicar Prudencio Otero valían mucho. Muchísimo, y en Italia se sabía. De ahí la mussoliniana necesidad de desactivarlos. La carta continúa:

«Tal falta de fundamento no es sin embargo apreciada por el gran público, y de ahí que sea muy oportuna la obra que se propone desarrollar S.V. Ilustrísima

¿Qué «obra» se proponía desarrollar el agregado de la embajada de Italia en Madrid por encargo de Génova en realación a los documentos sobre el Colón Gallego? Dejemos por un momento la pregunta en el aire, y pasemos a explicar, también por el aire, quien era Ángel Altolaguirre y Duval.

Altolaguirre era uno de esos académicos que había de determinar el alcance de los documentos gallegos. Presidía una comisión que debía trasladarse a Galicia para el estudio, no sólo de los documentos sino de otras pruebas como la famosa inscripción de la Basílica de Santa María. Pero, coincidiendo con la carta de la ciudad de Génova al agregado militar, acérrimo fascista, Altolaguirre no solamente se negó a desplazarse a Pontevedra con las excusas más peregrinas. Además, se dedicó a atacar con una virulencia indigna de un académico, de un historiador, y hasta de un mamífero, a la tesis gallega. Publicaba informes negando la veracidad de los documentos que no estudiaba y haciendo gala de una parcialidad y una subjetividad indecentes, insultaba rabiosamente a cualquiera que osara afirmar que acaso Colón era gallego. Y todo eso, sin renunciar a la presidencia de la comisión encargada del asunto.

Bien. En los años 50, felizmente muerto Ángel Altolaguirre, esperamos que tras larga y dolorosa agonía, sus descendientes decidieron vender su biblioteca. Un señor catalán, interesado en la figura de Colón, adquirió un lote de libros provenientes de la colección de Altolaguirre y entre las páginas de uno de ellos, encontró varios documentos. Eran las cartas dirigidas por Prudencio Otero a  Ángel Altolaguirre, en las que le pedía insistentemente que procediera a realizar, como presidente de la comisión académica, el viaje prometido a Pontevedra para analizar las pruebas sobre el Colón Gallego. Junto a las cartas de Prudencio Otero, el documento que vemos arriba. El señor catalán, un bibliófilo llamadoJaume Colomer i Montset ató cabos rápidamente y contactó con Modesto Bará, periodista e investigador que mucho aportó al Colón Gallego, dando cuenta de su extraño hallazgo. La carta de Colomer dice que la embajada italiana se encargaba de buscar:

«(…) que alguien estudiara el problema del origen de Cristóbal Colón, a fin de oponerse a la argumentación de la tesis gallega. Todo hace pensar que el encargado de llevar a cabo esta campaña había confiado el asunto al Sr. Altolaguirre. El hecho de que poseyera él la carta del Ayuntamiento de Génova lo hace así presumir.


Vd. que conocerá los pormenores de los incidentes tenidos entre la comisión de académicos que se tenía que trasladar a Pontevedra y la comisión que allí aguardó inútilmente su llegada, sabrá encajar esta carta genovesa que explicaría muchas cosas, pero que aparte de la polémica surgida demuestra que alguien había «tomado su partido» antes de examinar los documentos de Vds»

Así se supo el porqué de la inquina remunerada de Altolaguirre contra el Colón de Pontevedra, y así se supo cuál era la obra encargada por Mussolini, a través de la ciudad de Génova, a su agegrado militar en Madrid. ¿Por qué una carta de la Ciudad de Génova a su agregado militar, en la que se muestra la preocupación italiana ante los documentos de Pontevedra, acaba en poder de Altolaguirre, la persona encargada de analizar esas pruebas pontevedresas? ¿Por qué precisamente Altolaguirre guarda esa carta junto a las de Prudencio Otero? ¿Cuántos académicos más fueron comprados por Génova? ¿Cuántas cartas como la que aquí reproducimos fueron escritas desde Italia? ¿Cuántos altolaguirristas caben en un Fiat Cinquecento?

Es conocida la furia con la que Mussolini defendió a su Colombo contra el empuje del Colón Gallego, ¿hasta dónde llegó esa furia? La carta que nos ocupa nos llegó de una manera imprevista y casual. En realidad, nunca nos debió haber llegado, y si podemos hoy leerla es porque el burro de Altolaguirreolvidó destruirla y la dejó perdida entre las páginas de un libro. Eso nos permite sospechar que estamos ante la punta de un iceberg.

Hay quienes citan las obrillas que escribió Altolaguirre con la misma veneración con que verían una aparición de Mussolini. Sepan que todo lo que haya escrito Altolaguirre en relación a Cristóbal Colón, al menos a partir de la fecha de esta carta,  ha de ponerse en cuarentena, y tras citar a Altolaguirre, lávense la boca con detergente. Y lean a Enrique Zas, que demostró punto por punto que Altolaguirre sólo escribía bobadas.Y aún por encima, pagadas por Mussolini.

A quien piense que soy desconsiderado con Altolaguirre, le pediré que busque las perlas que Altolaguirre y algún que otro académico dedicaban a García de la Riega, por aquel entonces recién fallecido. No seré yo quien las reproduzca por respeto a don Celso, respeto que no merecen ni Altolaguirre ni sus entusiatas cachorrillos.

Colón Gallego. Prueba irrefutable.

La imagen de abajo, nos muestra el mar de Cambados (Galicia). Este mar ha sido conocido siempre y lo es aún hoy como «Santo Tomé del Mar», como podemos comprobar haciendo una rápida búsqueda en Google. Colón utilizó mucho la toponimia de esa zona para bautizar lugares descubiertos por él en América, pero el caso que presentamos hoy es llamativo, sorprendente e irrefutable. Sucede que en el actual Haití existe un lugar llamado «Bahía de Acul» (si lo buscamos en Google escribámoslo así, entrecomillado, porque de otra manera el buscador se empeña en que no queremos buscar Acul sino Azul, vaya usted a saber por qué). Ese mar fue bautizado por Colón como «Mar de Santo Tomé». Si nos fijamos en la configuración de ambos mares y sus costas, habremos de coincidir, siempre que tengamos dos dedos de frente, que quien bautizó el lugar representado en el mapa inferior, por fuerza tenía que conocer el superior, pues son exactamente iguales, calcados. Podríamos haber utilizado imágenes de GoogleMaps, pero hemos decidido ser fieles al gran historiadorEnrique Zas, que fue quien nos mostró, allá por 1924, esta enorme «coincidencia». Otros han publicado estos mismos planos, posteriormente, sin molestarse en citar a Enrique Zas. Y eso no se hace. A Enrique lo que es de Enrique.

Así pues, arriba «Santo Tomé» (Galicia), y abajo «Santo Tomé» (América). Hasta la mente más obtusa entenderá que las semejanzas entre ambas costas algo tendrán que ver en el nombre utilizado por Colón para bautizar el Santo Tomé de América.

O «mar português» de Pedro Colón (V) – Teria estado na Mina?

 

Foz do rio Minho. Foto de Luís Miguel Cruz

 

Sobejam, pois, referências factuais, integrando as casas de Távora e de Pombeiro da Beira, no processo marítimo português, pelo menos desde os anos trinta do século XV, com particular incidência nas décadas de cinquenta e sessenta, em que o cargo de Almirante de Portugal foi exercido por dois dos seus elementos. É precisamente à data do falecimento do último destes (1467), que se vai negociar o matrimónio de Teresa de Távora (1468).

Que outra razão, que não a mais-valia do controlo extra de quase quarenta e cinco milhas da costa ocidental galega, levaria Afonso V de Portugal, a aceitar e promover a entrada de um nobre castelhano, numa das linhagens mais afectas ao seu conselho, à segurança da capital do reino, e à eventual política de sigilo atlântico a que já se referiram inúmeros estudiosos? E seria desprezável a capacidade mobilizadora e armadora, de uma casa como a de Soutomaior, nas rias de Vigo, Pontevedra e Arousa, quando Portugal se preparava para novas investidas norte africanas, ainda no âmbito do apelo de Calisto III à Cruzada anti-otomana[1]?

Pelas razões atrás evocadas, bem assim como pela constatação de que, entre os aliados familiares mais próximos, podia o conde de Caminha encontrar quem dominasse a grande maioria dos pontos-chave da costa portuguesa e dos leitos fluviais de maior relevância, deve poder questionar-se qual o verdadeiro papel que Pedro Álvares de Soutomaior representou na corte portuguesa, de 1469 a 1485. Tal janela interpretativa não pode mais ficar posta de parte, quer na historiografia galega, quer na portuguesa. Urge reequacionar a figura de Pedro Madruga, também enquanto homem de mar, armador ligado às rotas de comércio e corso, participante activo – directa ou indirectamente – no movimento renascentista dos descobrimentos marítimos da segunda metade do século XV português.

Termino com uma pergunta potencialmente perversa.

Atlântico e São Jorge da Mina

Após o pacto de Alcáçovas-Toledo que, em 1479, pôs fim à guerra de sucessão peninsular, o perdão do conde de Caminha dependia do acatamento das disposições ditadas pelos Reis Católicos. De todas, a mais importante e mais penalizante, seria a entrega de Tui e respectivo preito de vassalagem ao bispo Diego de Muros. Em finais de 1481, a cidade estava ainda na posse do governador Acuña, representante dos Católicos. O acordo com Soutomaior, estipulava que até 15 de Janeiro seguinte, esta lhe fosse entregue, para que pudesse cumprir os protocolos de menagem, reconhecendo a soberania do prelado. Contrariando as expectativas, Pedro Álvares não esteve presente, enviando procuradores[2].

Simultaneamente – segundo um estudo dedicado ao “Castelo da Mina” por Carlos Antero Ferreira – , navegava no atlântico, uma armada de dez caravelas, um navio pesqueiro e duas urcas, sob o comando de Diogo de Azambuja, fundeando na costa da Mina nesse mesmo 19 de Janeiro. Dois dias mais tarde, teve início a construção da primeira fortaleza portuguesa do litoral ocidental da África[3], onde Colón afirmou ter ido algumas vezes.

Escrevendo sobre Tui, Suso Vila documenta que, a 23 de Janeiro, ainda se esperava a qualquer momento, a vinda de Pedro de Soutomaior «a Caminna ou Valença ou daquel cabo», para que fosse a Tui cumprir o acordado com Acuña e o bispo Muros, o que só aconteceu passados quase três meses e meio, no princípio de Maio[4].

Entretanto, a fortaleza da Mina ganhava forma rapidamente. Em meados de Fevereiro estavam levantadas as muralhas e o sobrado da torre. Presume-se que a esse alucinante ritmo, estivesse concluída em finais de Março, senão mais cedo. Depois, o capitão-mor enviou de regresso a frota e, se a viagem de ida demorara cerca de cinco semanas, conclui-se que em Abril já os navios demandassem a costa portuguesa.

Pedro – que esse era também o nome de Colón segundo Lúcio Marineo Sículo[5], cronista dos Reis Católicos – poderia estar em todos os lugares do mundo conhecido de então, menos no norte português ou no sul galego; estrategicamente, talvez aguardasse apenas que o tempo ganho numa propositada demora lhe fosse favorável de alguma forma; mas o bom senso, obriga à pergunta: pela demora, teria o conde de Caminha estado na Mina?


[1] Gomes, S. A. (2006), pp. 177-178.

[2] Vila, S. (2010), pp. 176-177.

[3] Ferreira, C. A. (2007). Castelo da Mina. Da Fundação às Representações Iconográficas dos Séculos XVI e XVII. Lisboa, Portugal: Livros Horizonte, pp. 17-27.

[4] Vila, S. (2009). A cidade de Tui durante a Baixa Idade Media (1ª ed.). Noia, Galicia: Editorial Toxosoutos, pp. 165.

[5] Marineo Sículo, L. (31 de Julho de 2008). L. Marinei Siculi regii historiographi opus de rebus Hispaniae memorabilibus modo castigatum atq. Caesareae maiestatis iussu in lucem editum, 1533. (M. d. Enguia, Ed.), pp. 106v. Obtido em Janeiro de 2011, de Memoria Digital Vasca: http://hdl.handle.net/10357/374

Colón Gallego. La crónica de Francesillo de Zúñiga,

 Colón Gallego. La crónica de Francesillo de Zúñiga.

Casi cinco siglos antes de que Celso García de la Riega presentara sus trabajos sobre el posible origen pontevedrés de Cristóbal Colón, Marcelo Gaya nos describiera al Colón Gallego, Enrique Zas metiera en el asunto a Cristóbal de Sotomayor y Philippot hablara de su teoría, que sostiene que el descubridor y Pedro Madruga eran una misma persona, ya circulaba en la corte un texto que mantenía exactamente las mismas tesis.

A principios del siglo XVI, pocos años después de la muerte del almirante, Carlos V recibió como regalo un manuscrito satírico realizado por Francesillo de Zúñiga, su bufón. Se trataba de una crónica burlesca sobre los personajes de la corte y en general de la nobleza española, en la que se aireaban los trapos sucios de muchos de ellos y se hacían ‘afortunadas’ comparaciones entre personas y animales u objetos.
Los bufones eran generalmente plebeyos y su trabajo consistía en entretener al rey y a sus cortesanos. En realidad estaban muy lejos de la imagen estereotipada que tenemos de ellos. Nada de gorritos con cascabeles ni juegos malabares. Eran simplemente tipos ingeniosos que ponían su talento al servicio del señor a quien servían. Para ello contaban con licencia para decir las verdades que otros no podían decir, siempre que lo hicieran con gracia. Los problemas para Francesillo comenzaron a raíz de la obra que nos ocupa, pues muchos de los aludidos, lógicamente, no veían con buenos ojos saberse ridiculizados ante el rey por un bufón.

Francesillo murió asesinado, según todas las fuentes, por orden de algún noble que no pudo perdonar que hubiera puesto por escrito información inconveniente.

Con el tiempo la crónica fue pasando de moda y las copias del explosivo manuscrito quedaron dormidas hasta el año 1855, en que el afamado editor Ribadeneyra incluyó el texto en un tomo recopilatorio titulado ‘Curiosidades Bibliográficas’.

Entre otras referencias a la familia Sotomayor destaca el siguiente párrafo:

«Iba también con su majestad monsieur de Laxao, e contábale como don Diego de Sotomayor é el clavero de Alcántara e Rodrigo Manrique no tenían justicia para pedirle la encomienda mayor de la dicha Orden, que él era aficionado a ser de ella, y más si le daban la encomienda mayor. Decíale también que don Diego de Sotomayor parecía hijo bastardo de Colón el almirante de Indias, é solicitador de la mejorada (…)»

Es preciso aclarar que el Diego de Sotomayor de quien se dice «parece hijo bastardo de Colón» era en realidad hijo de Pedro Madruga, y hermano de Cristóbal de Sotomayor, lo que como mínimo demuestra que Francesillo y nosotros, con cinco siglos de diferencia sostenemos que Colón y Pedro Madruga eran una misma persona. También resulta sorprendente que Colón fuera el «solicitador de la mejorada«, es decir, que era quien en vida había intermediado para que se le concediera a Diego de Sotomayor un ascenso, pues ¿qué hacía Colón ocupándose de un hijo de Pedro Madruga? Algunos han tratado de interpretar la expresión «solicitador de la mejorada» como una alusión al «Memorial de La Mejorada«, documento que la propia Consuelo Varela, quien se ocupó de recopilar todos los textos escritos por Colón considera apócrifo. Pero aparte de eso, la figura del «solicitador», surgió a finales de la Edad Media como la persona que, por sus buenas relaciones o situación en la Corte, se ocupaba de gestionar asuntos pendientes o intereses de terceros, como precisamente el nombramiento de cargos. Así, queda claro que al referirse a Colón como «solicitador de la mejorada», Francesillo dice exactamente lo que hemos interpretado: el Almirante de Indias había solicitado en su día una «mejorada (ascenso)» para quien parece su hijo. Como innecesario argumento de refuerzo debemos decir que el editor que publicó la obra de Francesillo en 1855, Ribadeneyra, era especialmente cuidadoso con cada letra que publicaba, y que contó con varias copias manuscritas. En notas a pie, señala cada diferencia que encuentra entre los distintos manuscritos. Pues bien, en todos ellos aparece «la mejorada» así con minúsculas, lo que hace imposible que se refiera al Memorial de La Mejorada, que hace alusión al monasterio del mismo nombre. Como debe ser, Ribadeneyra imprime todos los nombres propios correctamente empezando con mayúscula. Así pues, Colón, padre de Diego de Sotomayor, solicitara un ascenso para su hijo.Aunque los más escépticos puedan pensar que el testimonio de Francesillo puede ser resultado de una bufonada, deben tener en cuenta que toda la información que proporciona la obra sobre hechos y personas se ajusta a la realidad. Así, cuando afirma en otros casos que alguien «parece» hijo bastardo de alguien las genealogías confirman que realmente lo era. En el caso concreto de Diego de Sotomayor, el juego es doble, pues Diego de Sotomayor jamás podría ser reconocido públicamente como hijo por Colón. También todos los hechos que se narran son ciertos, en algunos casos llegando a detalles que se escapaban a los cronistas oficiales. La intención de Francesillo al escribir su obra no era la de informar al rey sobre personas o circunstancias que el rey desconocía. El rey sabía de sobra quién era cada quién y lo que había hecho cada cuál. Lo que Francesillo hizo fue contar con humor la realidad pues a fin de cuentas se trata de una crónica, aunque el tono sea burlesco. Y poca gracia hubiera tenido para Carlos V leer hechos inciertos.Pero hay más. El noble real del bufón era Francés de Navarra. El apellido Zúñiga lo había tomado del duque de Béjar, Álvaro de Zúñiga y Guzmán Sotomayor, a cuyo servicio había estado hasta ser reclamado por el rey. Y este Sotomayor era el protector de Diego de Sotomayor y pariente cercano de Pedro Madruga, y además los Sotomayor habían gobernado desde tiempo inmemorial la Orden de Alcántara, la misma en la que Diego de Sotomayor aspiraba a una encomienda, por lo que la información además de llegarle al cronista por su presencia constante junto a Carlos V, la obtiene de su cercanía a la familia Sotomayor. En otros puntos de su crónica ya demuestra Francesillo un conocimiento exhaustivo y detallado sobre la familia de Pedro Madruga. Francesillo, que se mantuvo varios años junto a Carlos V y durante toda su vida a la sombra del duque de Béjar, uno de los hombres más poderosos de su tiempo, conocía con detalle a todos y cada uno de los personajes de la Corte, y estaba presente incluso en declaraciones de guerra entre estados. Conoce a la perfección a cada una de las personas a las que cita y a sus linajes, y prueba en su texto que además también conoce las particularidades y los secretos de toda la nobleza, y las puede contar en su crónica porque, repetimos, no es una crónica escrita para ser publicada. De hecho no se publicó hasta pasados tres siglos, cuando su contenido ya no presentaba peligro alguno para la Corona ni para los aludidos y los secretos que se revelaban, como el que nos habla del hijo de Pedro Madruga como hijo de Colón, se habían vuelto inocuos.Y finalizaremos señalando que la teoría del Colón Gallego no se basa en este texto, pues la crónica de Francesillo y su referencia al hijo de Colón-Madruga ha sido uno de los últimos elementos que se han incorporado, simplemente porque nadie lo había leído como parte del contexto del Colón Gallego. El texto referido, en realidad, hubiera sido un buen punto de partida para la tesis del Colón Gallego, pero lo cierto es que cuando realizaba la investigación para mi libro «Colón, Pontevedra, Caminha«, al encontrar éste y otros pasajes de Francesillo que aluden a Colón como Pedro Madruga, me pareció increíble que nadie hubiera reparado en ellos. Con Francesillo consigue la tesis del Colón Gallego dos cosas: un gran paso hacia adelante en el refuerzo de la tesis y un gran salto hacia atrás en el tiempo, ya que gracias a Francesillo, podemos decir que el Colón Gallego no tiene sus orígenes en el S. XIX con García de la Riega. En realidad, el Colón Gallego, hoy lo sabemos, siempre ha estado ahí. Desde el principio.Este texto fue publicado en «Diario de Pontevedra» hace un par de años, en su suplemento cultural. Ha sido posteriormente reproducido en varios medios. Le he hecho alguna modificación, o más bien he recurrido al borrador original que tuve que recortar en su día por problemas de espacio. Me considero obligado a advertir del autoplagio, pero como autor me veo en derecho de hacerlo. No es, por tanto, un texto del todo inédito, pero su publicación en Glub responde a la petición de un aguerrido coloniano, Fernando Alonso Conchouso, quien me hizo ver que hasta hoy no había dedicado aquí ninguna entrada a la crónica de Francesillo, considerada por algunos, no sé si con razón, como mi mayor aportación al asunto del Colón Gallego.La imagen, Carlos V, destinatario del texto de Francesillo, ¡visto por Nestlé! La música «Miña Terra Galega«, de Siniestro Total.
[author] [author_image timthumb=’on’]https://cristobal-colon.com/wp-content/uploads/2012/05/images.jpg[/author_image] [author_info]Por Rodrigo Cota http://correctoresdesabor.blogspot.com.es/ http://escritorcorrector.com/http://www.amazon.es/[/author_info] [/author]

Cristóbal Colón y el Comendador Diego de Sotomayor

Hace algo más de un año, tuve la inmensa fortuna de toparme con un texto de Francesillo de Zúñiga, una crónica en la que se mencionaba a Diego de Sotomayor, hijo de Pedro Madruga, como hijo de Cristóbal Colón. La sorpresa fue doble, en primer lugar porque el texto, escrito en el primer tercio del S. XVI y publicado por vez primera a mediados del S. XIX, refrendaba la tesis de Pedro Madruga como verdadera identidad de Colón…………..

Si, como asegura Francesillo, Diego de Sotomayor era hijo de Colón, entonces Colón es Pedro Madruga. En segundo lugar, me sorprendió que el texto hubiera pasado desapercibido durante todo este tiempo a los ojos de todos aquellos que dedican su vida al estudio de Cristóbal Colón.

La autoridad de Francesillo de Zúñiga como cronista queda fuera de toda duda por varios motivos, y más aun en lo que se refiere a la familia Sotomayor, de la que habla con gran conocimiento. Había estado durante años al servicio del duque de Béjar, íntimamente ligado a los Sotomayor y a la Orden de Alcántara, a la que pertenecía Diego de Sotomayor, residente en Extremadura en tierras vecinas a las de su pariente, el propio duque de Béjar. Por otra parte, un análisis exhaustivo del texto de Francesillo no deja lugar a dudas sobre el carácter escrupuloso que imprimía a cada dato que consignaba, aunque se tratara de una obra satírica escrita para solaz de Carlos V, o precisamente por estar dedicada al Emperador. Es imposible encontrar en la “Crónica del Emperador Carlos V” una inexactitud en lo que se refiere a hechos que narra, nombres, parentescos que refleja o fechas. Además, Francesillo tuvo la libertad de escribir sobre todos aquellos asuntos que estaban vetados a los cronistas oficiales por una simple razón: su crónica no fue escrita para ser publicada, y de hecho no se imprimió hasta tres siglos después. Eso permitía al autor bromear sobre asuntos muy serios de los que el rey, destinatario del texto, tenía un amplio conocimiento. Dice Francesillo que Diego de Sotomayor “parece hijo bastardo de Colón, el Almirante de Indias”. Ese “parece” lo utiliza habitualmente para referirse a los que en realidad eran hijos bastardos. En el caso de Diego de Sotomayor tiene un doble sentido, pues Colón no reconocía, obviamente, a los hijos que había tenido con su anterior identidad. Dice luego que el mismo Diego “parece heredero del ladrón que desesperó”. Y en otra parte del texto deja bien claro que el “ladrón que desesperó” es Pedro Madruga, cuyos bienes realmente heredó Diego tras serle confiscados a su sobrino Pedro. Dice también que Diego de Sotomayor aspiraba al maestrazgo de la Orden de Alcántara y se refiere a Colón como solicitador de aquel ascenso. De ser así, esa solicitud tuvo que hacerse años antes, pues Colón murió en 1506. Era habitual que ese tipo de cargos se solicitasen con años de anticipación. Todo encaja en el testimonio de Francesillo con la tesis Colón-Madruga.

Y ya saliéndonos del texto de Francesillo de Zúñiga, la investigación sobre el Comendador Diego de Sotomayor da mucho más de sí, y sospecho que irá a mayores a medida que se vayan conociendo nuevos datos. Hace unos meses tuve la feliz idea de enviar a don António Pedro Sottomayor una copia del libro “El Castillo del Marqués de Mos en Sotomayor”, escrito por la marquesa de Ayerbe. El libro me había llegado a través de Fernando Alonso Conchouso. Así, entre el mayor investigador que existe hoy sobre la tesis Colón-Madruga, que es el Sr. Sottomayor, y el mayor bibliófilo y divulgador, que es el Sr. Alonso, tenemos dos minas que pronto arrojaron sus frutos. A los pocos días me escribía António Pedro y, en su elegante portugués (eso no es mérito suyo, el pueblo portugués escribe con mayor elegancia que nosotros) me hacía ver un dato que a mí se me hubiera escapado de todas todas, y eso sí es mérito suyo. En uno de los apéndices del libro de la marquesa de Ayerbe se reproduce la solicitud de ingreso de Diego de Sotomayor en la Orden de Alcántara. Uno de los testigos que declara en ella es Juan de Estrada, procedente de Vila Real (Portugal). Pedro Madruga tenía una amante en Vila Real, Francisca de Estrada, de la que tuvo un hijo llamado Juan de Estrada, que servía al marqués de Vila Real. Éste puede ser el testigo que declaró a favor de Diego de Sotomayor, ya que es el único de ese nombre que tenemos documentado, aunque no se puede descartar la posibilidad de que existiera otro Juan de Estrada en Vila Real, que en todo caso sería pariente muy cercano de Francisca, la amante de Madruga, ya que la única rama de apellido Estrada que había por aquella época en Vila Real era aquella a la que pertenecía Francisca, y por tanto el testigo Juan de Estrada.  De lo que no hay duda es de que un Juan de Estrada, hijo de Pedro Madruga y Francisca de Estrada, sirvió durante toda su vida al marqués de Vila Real, eso queda claro por abundante documentación. La relación de Madruga con el marqués de Vila Real iba mucho más allá de una simple amistad. Por poner un ejemplo, cuando Pedro Madruga secuestró al obispo de Tui, Diego de Muros, los 700.000 maravedíes del rescate fueron entregados al marqués de Vila Real, lo que nos demuestra que Pedro Madruga tenía una confianza ciega en el marqués.

Todo ello no nos llevaría a ningún lado si Pedro de Meneses, que así se llamaba el marqués de Vila Real no tuviera relación alguna con Colón. Pero el caso es que fue Pedro de Meneses, en una encendida discusión con el obispo de Ceuta quien intentó convencer al rey de Portugal de que patrocinara el viaje de Colón. ¿Defendía el marqués de Vila Real a un Colón cualquiera, jugándose su prestigio y su influencia en la corte portuguesa? Evidentemente, no. El marqués de Vila Real defendía a su amigo y hombre de confianza, Pedro Madruga.

Rodrigo Cota González.

Pedro Madruga, Cavaleiro de São João de Rhodes ( III ) – o tempo de Cristóvão Colón

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[button link=»https://cristobal-colon.com/pedro-madruga-cavaleiro-de-sao-joao-de-rhodes/»] Pedro Madruga  I[/button]

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[button link=»https://cristobal-colon.com/pedro-madruga-cavaleiro-de-sao-joao-de-rhodes-iii/»  color=»purple»] Pedro Madruga III[/button]

 

 

 

Manuel da Maia foi Tabelião em Abrantes. A pedido do Juiz de Fora André de Matos Almada, dará provimento, em Junho de 1596 e Novembro de 1598, a dois documentos, um requerido por Sebastião de Valadares Soutomaior, e o outro por Fernão Soares Galhardo, fidalgos daquela vila. …

Coincidiam aqueles instrumentos legais, ao tratar do parentesco entre ambos os requerentes e um outro familiar comum que fora Alcaide-Mor da vila de Seda, tudo devidamente atestado por várias testemunhas presentes.

Como antepassado comum, apresentavam o Fidalgo da Casa Real Diogo Ribeiro de Soutomaior, filho de Fernando Anes de Soutomaior, fidalgo morador em Arruda-dos-Vinhos, e neto de D. Cristóvão de Soutomaior.

O primeiro genealogista a fazer uso destas fontes foi Bernardo Pimenta do Avelar Portocarreiro, entre 1713 e 1722, no seu manuscrito Das Gerações Nobres deste Reino de Portugal, logo seguido por Jacinto Leitão Manso de Lima, um dos mais notáveis genealogistas do século XVIII, autor de 56 volumes manuscritos sob o nome de Famílias de Portugal. Ambos os tratados fazem parte do catálogo das “genealogias manuscritas” do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa.

Conhecedores do seu ofício, ambos identificaram aquele D. Cristóvão com o único possível, referido nos documentos coevos: o benjamim do casamento de D. Pedro Álvares de Soutomaior, Conde de Caminha, com D. Teresa de Távora, que foi “secretário de Filipe II e morreu na Conquista das Índias Ocidentais”. Não se lhe conhecendo casamento algum, aquele Fernando Anes teria inevitavelmente de ser seu filho natural, mesmo que cronologicamente, a hipótese carregasse em si mesma, um erro de cerca de meio século, correspondente, no mínimo a duas gerações.

Um simples exercício matemático de recuo no tempo, tomando como ponto de partida três descendentes de linhas diferentes, bem datados e documentados, que viveram na segunda metade do século XVI, demonstra-o sem grande dificuldade: o pai daquele Fernando de Soutomaior teria inevitavelmente nascido nos anos 30 do século XV, e nunca à roda de 1480, como o Cristóvão, filho de Pedro Madruga, o tal que morreu nas Índias de Colón!

Senão vejamos: considere-se como valor médio para a idade casadoura de um varão naquele tempo, os 27 anos, dois anos após a maioridade legal de então. Esse número base deverá ser multiplicado pelo número de gerações desde a personagem que pretendemos datar. Seguidamente subtrairemos o valor obtido às três datas de nascimento documentadas. Obteremos um ano aproximado para o nascimento do referido progenitor daquele Fernando de Soutomaior.

O primeiro descendente documentado é Cristóvão de Valadares Soutomaior, nascido em 1543, terceiro neto de D. Cristóvão; 27 anos x 4 gerações = 108 anos; 1543 – 108 = 1435.

Segue-se Isabel Fradessa do Avelar, nascida em 1547, também 3ª neta de D. Cristóvão; 27 x 4 = 108; 1547 – 108 = 1439.

Finalmente, para Cristóvão do Avelar Soutomaior, nascido em 1571, 4º neto de D. Cristóvão; 27 x 5 = 135; 1571 – 135 = 1436.

Recorrendo ao absurdo para resolver a questão, tomemos o primeiro exemplo, e consideremos uma menos do que provável hipótese de uma diferença de apenas 15 anos entre gerações: 15 anos x 4 gerações = 60 anos; 1543 – 60 = 1483. Esta era a única forma de podermos ter Fernando Anes de Soutomaior como filho natural daquele D. Cristóvão morto nas Índias Ocidentais.

Deste modo, e perante as evidências documentais, uma conclusão deve ser extraída: o pai deste Fernando tinha de ser contemporâneo de Pedro Álvares de Soutomaior, e nunca de seu filho mais novo.

Posto o enigma, só existem duas respostas, elas próprias impossíveis de esclarecer com base na documentação hoje existente: ou os intervenientes no processo mentiram em bloco ao jurarem a sua ascendência perante o tabelião Manuel da Maia em 1596 e 1598… e então este artigo termina aqui; ou o que disseram era a verdade distorcida pela distância de um século a mediar os factos… e então podemos genuinamente perguntar-nos se aquele D. Cristóvão de Soutomaior não seria uma confusa simbiose entre D. Cristóvão Colón e D. Pedro Alvares de Soutomaior.

A ser assim, poderemos estar perante um outro filho natural do cónego de Tui, quiçá o primeiro rebento da vasta prole de Pedro Álvares, e daí ter recebido o nome do avô, clássica actuação na linhagem dos Soutomaior de Tui. Diz-nos o investigador Suso Vila Pérez, na página 479 da sua já mencionada obra sobre Tui, que naquela sede de bispado os eclesiásticos tinham uma importante influencia enquanto cidadãos, “a través dos seus fillos – a maioria declarados – mancebas, criados, e outros parentes”.

O nascimento de Fernando Anes de Soutomaior só faz sentido entre a segunda metade dos anos 50 e os primeiros anos da década de 70 do século XV. É igualmente admissível que se tenha criado com sua mãe em Tui até contrair matrimónio, por negociação paterna, com uma senhora de varonia d’o Ribeiro e linhagem de Valadares, atendendo aos apelidos que tiveram os filhos Diogo, Gaspar e Brás. Neste ponto, é interessante citar Alfonso Philippot, que documenta o padrasto de Pedro Álvares de Soutomaior com o dito apelido d’o Ribeiro; também José Armas Castro em Pontevedra en los siglos XII a XV, refere um Juan do Ribeiro, mercador e alcaide de Pontevedra em 1487 e 1493; bem assim como José Garcia Oro que amiúde refere nas suas obras que tanto os Montenegro como os Valadares foram escudeiros dos Soutomaior, até à cisão provocada pela Guerra da Sucessão ao trono de Castela depois da morte de Enrique IV.

Sabendo dos interesses comerciais dos Soutomaior no tráfego marítimo de Pontevedra, não será de estranhar que nos anos 70 e 80, o período de maior influência de Pedro Álvares de Soutomaior em Portugal, este seu filho fosse “transferido” para o país vizinho, e se implantasse numa região afamada pela produção de vinhos que então se escoavam pelo rio Tejo via Lisboa, não só para consumo interno, como para exportação. Sobre este assunto, o acima citado José Armas Castro, afirma que “(…) llegaban a Pontevedra los vinos portugueses de Monção y, sobre todo, de la ria de Lisboa, traídos en ocasiones por los própios mercaderes portugueses y, más frecuentemente, cargados por los barcos pontevedreses (…)”.

Pela ordem de ideias que vamos seguindo, este Fernando Anes seria meio-irmão de D. Cristóvão de Soutomaior, e mais velho que ele entre cerca de um quarto de século e uma década; foi pai de 3 filhos.

Presumimos que o primogénito fosse Diogo Ribeiro de Soutomaior, e a ele cabe a sequência desta análise. Diogo casou nos anos 90 na vila de Abrantes, com uma das filhas de Vasco Gomes, o então Alcaide-Mor do castelo de Alegrete, uma das fortalezas da raia do alto-alentejo que defendia a fronteira com a região castelhana de Alcântara, na posse da Ordem do mesmo nome, onde os Soutomaior detinham então enorme influência. Este matrimónio revela como a Ordem de São João do Hospital, ainda se mantinha na esfera de influência da família de Pedro Madruga, alguns anos após a alardeada morte do Conde de Caminha! O facto é que a noiva escolhida para Diogo era irmã de um Cavaleiro daquela Ordem e o tio materno de ambos era Fernão Cabreira, Alcaide-Mor do Crato e Amieira, castelos que pertenciam aos Hospitalários, sendo este último, juntamente com o de Belver atalaia de vigia sobre o rio Tejo, a montante de Abrantes, e apoio dos peregrinos a caminho do Santuário de Guadalupe em terras alcantarinas.

A rota de Guadalupe, aliás, deve ter sido seguida com alguma frequência por estas linhagens, pois D. Inês de Soutomaior, filha de D. Nuno que vimos na parte II deste artigo, casou em Cabeza del Buey com um fidalgo de Trujillo, e duas das cunhadas de Diogo Ribeiro de Soutomaior também casaram em Trujillo, na linhagem dos Chaves, muito enlaçada com os descendentes do Mestre da Ordem de Alcântara, D. Gutierre de Sotomayor. Neste particular, é interessante notar a devoção que Cristóvão Colón também dedicava à Virgem de Guadalupe, e também o próprio Rei Enrique IV que no seu tempo considerava aquele santuário como “el mas notable de mios regnos”.

Na vila de Abrantes se enraizou então a prole de Diogo Ribeiro de Soutomaior. A mesma vila que era cabeça de condado dos Almeidas, linhagem a que pertencia D. Diogo Fernandes, o então Prior do Crato, homem da máxima confiança do Rei D. João II, e que estava presente ao lado do soberano em Vale do Paraíso, no encontro com Cristóvão Colón no seu regresso da primeira viagem em 1493. Confiando nas palavras do cronista Rui de Pina, o Prior do Crato foi o anfitrião nos três dias que Colón passou naquelas paragens portuguesas do Ribatejo. A razão parece óbvia à luz de tudo o que acima foi ficando dito: para além da confiança nele depositada, quem melhor que o Prior da única Ordem em que Pedro Álvares de Soutomaior teve entrada e foi cavaleiro, para garantir o seu bem-estar e segurança num momento tão delicado da sua relação com Portugal?

Quase que apetece reproduzir na íntegra, a questão retórica deixada por Manuel Rosa, no seu Colombo Português: “Que segredos terão o Almirante e o Prior, membro da Junta, partilhado ao longo daquelas três noites?” E a manceba do Prior, Leonor Cabreira, tia da mulher do Alcaide do Alegrete, tê-los-á acompanhado nalgum momento, falando de coisas mais triviais, como o consórcio matrimonial de sua sobrinha Inês com Diogo Ribeiro de Soutomaior? Ou será que Diogo enviuvara bem cedo e os dois acertaram novo matrimónio, desta feita na casa dos Fernandes de Almeida, de Abrantes, familiares do Prior, como os genealogistas informam?

Desasseis anos depois deste encontro, morto já o Almirante Colón, D. Cristóvão de Soutomaior deixou a região alcantarina onde vivia, e partiu para as Índias Ocidentais. Morreu, dois anos mais tarde, numa revolta local. A notícia atravessou um Oceano, esfumou-se durante oito longas décadas num Portugal que sempre teimou em rejeitar o Almirante, e acabou registada no dito tabelião de Abrantes!

Não será lícito suspeitar? Não seria aquele Cristóvão, na verdade, Pedro Madruga? E o Soutomaior… Colón?